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FolhaPress

Anestesista preso por estupro tem clínica de ginecologia com o pai no Rio

A empresa Femi Video Clinica Ltda. foi aberta há 25 anos, em 1997, mas o filho só consta como sócio há quatro anos e meio

Foto: DEAM/Divulgação

O anestesista Giovanni Quintella Bezerra, 31, preso em flagrante na última segunda (11/7) pelo estupro de uma grávida sedada durante uma cirurgia de parto, tem uma clínica de ginecologia junto com o pai no Rio de Janeiro.

A empresa Femi Video Clinica Ltda. foi aberta há 25 anos, em 1997, mas o filho só consta como sócio há quatro anos e meio. Ela fica localizada em um prédio na Vila Isabel, bairro de classe média e classe média alta na zona norte carioca.

Ele havia se formado em medicina meio ano antes, na Unifoa (Centro Universitário de Volta Redonda), mantida pela Fundação Oswaldo Aranha e localizada a cerca de duas horas do Rio.

Só concluiu a especialização como anestesista, porém, em março deste ano, tirando o título formalmente no mês seguinte, de acordo com a Polícia Civil. Fazia procedimentos em diversos hospitais da capital e da Baixada Fluminense.

Entre eles estão os estaduais Getúlio Vargas, da Mulher (em São João de Meriti) e da Mãe (em Mesquita), onde prestava serviço havia seis meses como pessoa jurídica antes de ser preso, segundo a Secretaria de Estado de Saúde.

Uma ex-funcionária administrativa do hospital onde ele foi flagrado no domingo (10) introduzindo o pênis na boca da paciente desacordada após o parto, em São João de Meriti, descreveu uma mudança no comportamento de Bezerra entre abril e junho, quando trabalhou ali.

À reportagem ela contou que ele era uma pessoa “muito simpática e educada” quando se conheceram. Depois de dois ou três plantões, porém, reparou que o médico passou a “entrar direto” na recepção e ignorar os outros funcionários.

A essa altura já havia condutas suspeitas dele relatadas no livro de ocorrências da unidade, espécie de caderno de registros onde enfermeiros e equipes descrevem os acontecimentos entre as trocas de plantão.

Uma delas era sobre uma paciente que havia ficado sob efeito de anestesia por mais de 24 horas, situação que também foi descrita por ao menos outras seis mulheres sedadas por Bezerra durante cesáreas no último mês.

“No livro de ocorrência, a gente registrou as estranhezas dele, entre outras tantas [que aconteciam]. E eu li uma reclamação de um pai que disse que a esposa estava muito sedada após a cirurgia”, diz ela.
Bezerra não morava próximo às unidades onde trabalhava, mas na Barra da Tijuca, bairro de classe alta na zona oeste do Rio onde também costumava frequentar uma academia.

Ali também moram seus pais, que, segundo o jornal O Globo, têm ido diariamente ao imóvel para desocupá-lo a pedido do proprietário que teria ficado chocado com o crime. Tem ainda uma irmã odontologista, que relatou nas redes sociais já ter sido vítima de abuso.

“Não estou bem mas sei que vou ficar”, escreveu ela. “Sou irmã mas antes sou mulher. Já fui vítima de abuso e eles não passarão. Desgosto e vergonha. A única coisa que peço é que não propaguem o ódio”, pediu ela, que não terá o nome divulgado. A reportagem não conseguiu fazer contato com ela.

Quando mais novo, Bezerra estudou no Colégio Cruzeiro, criado por imigrantes alemães no século 19. Hoje a escola tem duas unidades, uma no centro do Rio e outra em Jacarepaguá (zona oeste).

Ele chegou a se casar em 2018 em um castelo na França, em um “destination wedding” –quando os noivos escolhem celebrar a união fora de sua cidade ou país de origem.

Mas se separou e passou a namorar uma ginecologista obstetra do mesmo hospital onde foi preso em flagrante. O perfil dela foi deletado das redes sociais depois da repercussão do caso, assim como o dele.

Dezenas de contas fake com o nome do médico já foram criadas. Uma delas diz que “esse Instagram foi feito para expor” o anestesista, já outra se descreve como “fã clube do melhor médico do Brasil”.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa do médico, que ficou em silêncio durante seu depoimento à polícia. O jornal Folha de S.Paulo apurou que ele estava acompanhado de um advogado na audiência de custódia, na terça (12), mas sua defesa ainda não se apresentou publicamente.

No processo eletrônico do Tribunal de Justiça do RJ, Pedro Yunes Marones de Gusmão aparece como seu advogado. A reportagem ligou para seu escritório, mas não obteve retorno.

Por Júlia Barbon, Mariana Moreira e Ana Luiza Albuquerque 

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