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FolhaPress

Escola de SP é investigada por maus-tratos em crianças

A Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica fica na Vila Formosa e atende crianças de 0 a 5 anos

Foto: Reprodução/Redes sociais

A Polícia Civil de São Paulo investiga uma escola particular de educação infantil, na zona leste da capital, por suspeita de maus-tratos a crianças. O UOL ouviu duas mães de alunos, uma professora e uma ex-auxiliar de classe, além de vizinhos da unidade, que disseram que a situação se repete há anos. Os nomes das mães foram trocados para preservar a identidade das crianças.

A Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica fica na Vila Formosa e atende crianças de 0 a 5 anos. Na última semana, vídeos e fotos divulgados nas redes sociais mostram bebês chorando amarrados com lençóis a cadeiras conhecidas como bebê-conforto, inclusive dentro de um banheiro.

A reportagem tentou contato com a dona e diretora da escola por telefone e email desde terça-feira (15), mas não teve resposta. O advogado da escola também não respondeu. No domingo (13), a direção enviou um comunicado aos pais e responsáveis dizendo que foram divulgadas “acusações infundadas e absurdas” sobre a unidade e que “tudo será esclarecido” (leia mais abaixo).

A Prefeitura de São Paulo informou que a Secretaria Municipal de Educação apura o caso, e a Secretaria Municipal de Direitos Humanos acionou a Ouvidoria de Direitos Humanos e deve comunicar também o Conselho Tutelar.
A unidade está fechada desde segunda-feira (14). Na terça, mães e responsáveis fizeram um protesto no local.

Segundo apurou o UOL, após o vazamento das imagens nas redes sociais, agentes da polícia foram até a escola na semana passada com um mandado de busca e apreensão.

A perícia foi autorizada pela Justiça, porque a unidade já havia sido investigada em 2010 pela morte de uma criança de 3 meses. O bebê morreu após ter passado mal na escola. Na época, o caso foi arquivado.

A polícia apreendeu lençóis e o celular da diretora, além de ter confirmado que os vídeos foram gravados no local.

Na quinta-feira (10), após buscar seu filho de 2 anos e seis meses na escola, a autônoma Sueli, 34, recebeu uma mensagem da diretora informando sobre uma reunião urgente no dia seguinte. Na mesma noite – antes da reunião -, Sueli começou a receber imagens e vídeos pelo WhatsApp e em outras redes sociais.

No dia seguinte, segundo a mãe, a diretora alegou que uma ex-funcionária fez uma denúncia à polícia e que, por isso, os agentes foram até a escola. “Depois que fui embora, recebi vídeo do meu filho amarrado e fui para a delegacia”, disse.

“A gente quer que a escola pague por tudo isso, que seja feita justiça. É traumático para nós e para nossos filhos.” Sueli e outras mães abriram um grupo de WhatsApp e compartilharam outros vídeos e relatos de maus-tratos.

A biomédica Noeli, 30, mãe de outro bebê que aparece em uma das gravações, disse que estranhava algumas “atitudes” da da direção da escola. Os pais dos alunos, de acordo com ela, não tinham contato direto com as professoras e toda a comunicação e o acompanhamento das crianças eram feitos diretamente com a diretora.

“É uma sensação de impotência, porque você deposita seu bem maior. Eu realmente sempre acreditei muito na escola. Você se julga como mãe e pensa: como não percebi isso antes”, lamenta.

Sueli e Noeli deram seus depoimentos para polícia no sábado (12). Segundo a biomédica, a delegacia tem outras provas de situações de maus-tratos e torturas contra os alunos.

“Meu filho tem um atraso em relação às crianças, mas ele ficava agitado na cadeirinha ou até mesmo para dormir durante a semana. Hoje, eu já desconfio que essas atitudes sejam reflexo do que ele vivia na escola”, afirma Sueli, mãe de aluno.

Procurada pela reportagem, a SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública) informou que os fatos relatados pelas mães “são alvo de investigação” pela Polícia Civil. A secretaria não respondeu sobre as denúncias feitas em anos anteriores.

A reportagem também conversou com uma funcionária e outra ex-funcionária sob a condição de anonimato.

Uma professora, que trabalhou na escola até a semana passada, disse que a diretora realizava o “procedimento” -enrolar os alunos em um lençol- toda vez que uma criança chorava.

Às vezes, de acordo com ela, o aluno era levado até uma sala escura.

“Quando eu via alguma criança chorando, ficava desesperada para ela não chorar. Se a diretora ouvisse, eu ia tomar bronca e ela ia pegar a criança”, afirma funcionária.

Ela também afirma que a diretora não liberava o uso de celular dentro da escola e, por isso, não era possível provar as situações vivenciadas ali.

Uma ex-auxiliar de sala que trabalhou no local em 2017 também contou para a reportagem que isso já acontecia naquele ano. Ela trabalhou durante uma semana na escola. A ex-funcionária afirmou ter ido a uma diretoria de ensino fazer uma denúncia, mas, como não tinha provas, não conseguiu formalizar a queixa.

A Secretaria Municipal de Educação informou que a unidade “obteve autorização para funcionamento a partir de novembro de 2016” -mas há relatos de que ela tem alunos há pelo menos 15 anos (CNPJ está ativo desde 2002).

A pasta afirma que que notificou a direção e está apurando o caso, que pode acabar em cassação da autorização de funcionamento. “Nenhuma outra denúncia foi protocolada durante o período de funcionamento da unidade”, diz o texto.

Mães e funcionários disseram ao UOL que a maior parte da equipe que trabalha na escola é formada pela família da diretora.

A mensalidade é de R$ 850 para oito horas de permanência, além da alimentação. As páginas da instituição nas redes sociais estão suspensas. A escola afirma que tomou a decisão para “preservar as imagens das crianças”.

Em comunicado enviado aos pais e responsáveis no domingo (13), a unidade informou que as atividades ficariam suspensas por “um período inicial de 15 dias”. “Nos últimos dias, foram feitas acusações infundadas e absurdas sobre o tratamento que damos às nossas crianças”, afirmou a direção no comunicado.

Segundo o texto, “algumas pessoas” fizeram ameaças contra os colaboradores da escola e as crianças, e continua: “Temos a certeza que após as investigações, tudo será esclarecido e, havendo culpados, estes serão processados, assim como outros que levantaram calúnias, difamações e injúrias contra a escola e seus colaboradores.”

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