Imperatriz Leopoldinense é a campeã do Carnaval do Rio de 2023
Escola quebrou jejum com a conquista do título após 22 anos
Com rima de cordel e batuque de samba, a Imperatriz Leopoldinense venceu o Carnaval 2023 no Rio de Janeiro. A escola contou a história de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.
O enredo teve um dos nomes mais compridos do Carnaval 2023: “O Aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarda”.
O carnavalesco da agremiação, Leandro Vieira, usou como fio condutor o sertão e a chegada do bando de cangaceiros de Lampião. O diferencial do enredo foi o que ocorreu com Lampião após sua morte: nem o céu nem o inferno o queriam.
O controverso personagem foi representado junto com Maria Bonita pelo primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro. A agremiação, das cores verde, branco e ouro, é conhecida pela excelência técnica e foi mais uma entre as escolas que apostaram em temas vinculados ao Nordeste.
O mestre de bateria da Imperatriz, Luiz Alberto Lolo, disse que não conseguia encontrar as palavras certas para a vitória após 22 anos. “Não sei como descrever. Fomos rebaixados, agora somos campeões, passamos por muita humilhação. É uma sensação incrível ser campeão e com notas 10”, afirmou.
Já a presidente da Imperatriz, Catia Drumond, agradeceu a moradores do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. “É para você CPX, é para você Complexo do Alemão. Esse grito estava na garganta e saiu após 22 anos. Estamos todos muito felizes, renascemos das cinzas”, disse.
Em festa, o complexo de favelas e o bairro de Ramos, na zona norte do Rio, entoavam com toda força o samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense depois da confirmação do título da escola após o jejum de 22 anos.
A agremiação anunciou a distribuição de 15 mil latinhas de cerveja na quadra enquanto esperava a chegada os dirigentes e componentes que acompanharam a apuração no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no centro da cidade.
Após quatro quesitos, a escola assumiu a liderança isolada na disputa, seguida seguida pela Viradouro, o que se manteve até o anúncio da vitória para a Imperatriz. As duas escolas foram as únicas entre as 12 a tirar a nota máxima em Alegoria e Adereços.
Para os desfiles, o carnavalesco da campeã, Leandro Vieira, apostou em um visual popular e de fácil identificação para contar o enredo. Uma ala de mandacarus, plantas que compõem a paisagem sertaneja, abriu o desfile.
Em seguida, a escola simbolizou cangaceiras que, segundo a descrição do carnavalesco, “encarnam o espírito arredio das mulheres que marcaram o bando de Lampião”. As fantasias faziam referência à cangaceira Dadá, a primeira a portar um fuzil.
O segundo carro alegórico, chamado “Dia 28: rebuliço no olho do mamulengo”, também trouxe uma interpretação lúdica da famosa fotografia das cabeças degoladas em exposição, após a morte de Lampião, Maria Bonita e membros do cangaço, dia 28 de julho de 1938.
As cabeças usadas para reproduzir o episódio eram de bonecos mamulengos, arte tradicional do Nordeste. Mais à frente, desfilaram “fantasmas sertanejos”, com fantasias com véus.
Na história de cordel contada pela Imperatriz, Lampião não é aceito nem pelo inferno, nem pelo céu. Sem abrigo, ele vagueia pela cultura nordestina e vira um fantasma sertanejo.
O Império Serrano amargou notas baixas nos quesitos de alegorias e adereços e mestre-sala e porta-bandeira, e ficou com a última colocação. Apesar do enredo em homenagem ao sambista Arlindo Cruz, com direito à presença do próprio na avenida, a escola foi rebaixada e disputará a Série Ouro em 2024.
Por Bruna Fantti e Júlia Barbon