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FolhaPress

Ocupação de UTIs para Covid cresce em 18 estados e DF em uma semana

Sete estados e Distrito Federal estão com 80% ou mais dos leitos intensivos públicos em uso por pacientes com coronavírus

GDF libera contratação de 100 médicos para atuar no combate à Covid-19
Foto: Renato Alves/Agência Brasília

Impulsionada pela nova escalada dos casos de Covid no país, a ocupação de leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) para pacientes com coronavírus cresceu em 18 estados e no Distrito Federal na última semana, aponta levantamento da repoortagem realizado junto aos governos estaduais.

Ao menos oito unidades da federação já têm 80% ou mais das vagas públicas de UTI para Covid-19 em uso. Há uma semana, eram apenas quatro estados nesse mesmo patamar.

Distrito Federal, Rondônia, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Goiás, Espírito Santo, Piauí e Pernambuco são os que estão em situação mais crítica.

A piora aconteceu a despeito de os governos estaduais terem reaberto leitos para o tratamento de pacientes com a doença. Em uma semana, o número de vagas para pacientes graves cresceu de 15.115 para 15.876 no país, um aumento de cerca de 5%.

O Distrito Federal está entre as unidades da federação que apresentam cenário mais grave. A capital federal tinha 90% dos leitos públicos de UTI ocupados no final da tarde desta terça-feira (25).

Ao todo, a capital possui 73 vagas de UTI para Covid, sendo que 58 estão ocupadas, 10 estão aguardando liberação (bloqueadas) e 5 estão vagas.

A taxa de ocupação chegou a 100% no DF na manhã desta terça, mas o governo local liberou alguns leitos que estavam bloqueados e o percentual caiu a 90%. O governo informou que 9 em cada 10 internados não estão vacinados ou não receberam ao menos duas doses.

Por causa da explosão de casos, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu que, a partir desta segunda, o Hospital Regional de Samambaia vai atender apenas casos de Covid, com exceção da maternidade.

Há 98 pacientes aguardando leitos de UTI na capital federal, sendo 7 desses com confirmação ou suspeita da Covid-19, que devem ser direcionados para unidades com atendimento da doença.

Outros dois estados do Centro-Oeste também superaram o patamar de 80% de ocupação. Em Goiás, 84% dos leitos de terapia intensiva já têm pacientes. Na capital, a pressão é ainda maior: mesmo com o incremento de 73 novas vagas em uma semana, 97% estão cheias.

Nas últimas semanas, a prefeitura de Goiânia reduziu o limite de público de eventos e estabelecimentos para 500 pessoas. Bares, restaurantes, celebrações religiosas, shopping centers, academias, salões de beleza e teatros só podem funcionar com 50% da sua capacidade.

Em paralelo, a administração municipal reforçou a fiscalização contra festas clandestinas. No último final de semana, 8 locais foram fechados dentre 20 visitados por infrações às regras sanitárias.

Em Mato Grosso, o índice de UTIs ocupadas é de 85%, superior ao da semana passada. Na capital, UBSs (unidades básicas de saúde) de quatro bairros suspenderam os atendimentos na segunda (24/1) após profissionais de saúde terem sido diagnosticados com gripe ou Covid-19.

Nos estados do Nordeste, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Piauí enfrentam os piores quadros.

No Rio Grande do Norte, a ocupação das unidades de terapia intensiva chega a 84%. As UTIs públicas pediátricas, com apenas três vagas, estão lotadas.

O governo do estado informou nesta terça que, diante da situação atual, está expandindo a oferta de leitos críticos e clínicos na rede. A média móvel de pedidos por leitos quadruplicou de 15, em 26 de dezembro, para cerca de 60 um mês depois.

O Piauí também teve um aumento repentino na ocupação de UTIs na última semana, saindo de 58% para 82%. Agora figura na lista de estados com maior risco de colapso no sistema de saúde.

Pernambuco, por sua vez, reduziu o percentual de 86% para 80%, mas se mantém em um cenário considerado crítico. A queda proporcional foi causada pelo aumento no número de leitos disponíveis, que subiu de 952 para 1.002.

Por causa da escalada de casos da influenza H3N2 e da Covid-19, o estado retomou medidas restritivas. Os eventos foram limitados a 3.000 pessoas pelo menos até a próxima segunda (31/1), e o passaporte vacinal passou a ser exigido em bares, restaurantes, cinemas, teatros e museus.

Especialistas defendem o endurecimento desse tipo de limitação. O médico Bruno Ishigami, do Recife, explica que, mesmo com a variante ômicron provocando mais casos leves, a quantidade de casos é tão elevada que o número absoluto de pessoas que precisam de internação é muito alto.

“Festas privadas, por serem uma aglomeração com 3.000 pessoas, podem ajudar a aumentar a taxa de contaminação com vírus circulantes. O ideal é a proibição das festas agora”, afirma.

Nos estados do Norte, Rondônia também enfrenta um quadro crítico, com 91% das 55 vagas para pacientes graves com Covid-19 ocupadas. Um dos três hospitais com leitos públicos para Covid da capital, Porto Velho, já não tem mais vagas.

O Amazonas, que viu o seu sistema de saúde colapsar nas duas primeiras ondas da doença, tinha 81% dos leitos de UTI para Covid-19 ocupados nesse domingo (23/1). Desde o início do mês, o número de pacientes graves internados na capital amazonense mais do que triplicou, saltando de 23, em 1º de janeiro, para 74 neste domingo.

Em meio à explosão da transmissão do vírus, o governo do estado decidiu alterar o registro de leitos nesta segunda, deixando de informar quantos estão disponíveis para Covid-19 e quantos estão ocupados.

O Amazonas divulgou apenas o número de pacientes internados com a doença e a ocupação total das UTIs (60%), incluindo as que não são direcionadas para Covid. Questionada pela reportagem sobre o motivo da mudança, a secretaria de Saúde não respondeu.

No estado do Rio de Janeiro, a ocupação de UTIs públicas deu um salto de 10% para 62% em apenas uma semana, mesmo com a abertura de 60 leitos. A maioria dos internados é de idosos com comorbidades e pessoas que não tomaram o reforço da vacina, segundo médicos.

O tempo médio de espera para hospitalização já chega a mais de dois dias na capital fluminense, onde a ocupação pulou de 64% para 77% no período. Estado e cidade não informaram a situação dos leitos pediátricos.

Em São Paulo, a taxa também cresceu e chegou a 65% no estado e 72% na capital, segundo a Fundação Seade. Ambas as gestões seguem ampliando o número de leitos de UTI para Covid-19, mas ainda assim a ocupação segue em alta.

Na avaliação de Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, a escalada de casos do novo coronavírus está disseminada em todo o país.

“É tão maior o número de novos casos que, mesmo se a gente tiver 90% de redução na proporção das hospitalizações de antes da vacina, isso ainda pode pressionar o sistema de saúde”, afirma.

Outro problema, diz Schrarstzhaupt, é que a disseminação da doença também atinge os profissionais de saúde, que estão desfalcando os hospitais. “Um leito não é só a cama, mas também equipamento e equipe”, ressalta.

Ele avalia que, para frear a atual curva crescente, seria necessário voltar a reforçar cuidados adotados antes da vacinação, como o uso de máscaras com boa vedação e o distanciamento social.

Por Fernanda Canofre , Raquel Lopes , José Matheus Santos , Júlia Barbon , Matheus Rocha , Ana Luiza Albuquerque , Leonardo Augusto , Franco Adailton , Paulo Eduardo Dias e Isabela Palhares

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