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PM nega racismo e diz ter recebido relato de roubo antes de abordar filhos de diplomatas

Caso ocorreu no Rio; policiais não usavam câmera corporal, e corregedoria diz que vai apurar o motivo

Um dos policiais envolvidos na abordagem a filhos de diplomatas no Rio de Janeiro, na semana passada, prestou depoimento nesta quinta (11) na Deat (Delegacia Especial de Apoio ao Turismo), unidade onde é conduzido o inquérito sobre o possível crime de racismo na ação. O outro agente investigado não quis depor pois disse que irá aguardar a defesa ter acesso ao inquérito.

O sargento Sérgio Regattieri Fernandes Marinho lotado na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) afirmou que momentos antes de abordar os adolescentes estava em patrulha e foi abordado por dois homens que relataram terem sido assaltado na região.

Na ação, os policiais apontaram fuzis para o grupo de jovens. Dos quatro garotos, três deles são negros, filhos dos embaixadores do Gabão e de Burkina Fasso e de um diplomata do Canadá. O quarto, branco,é neto do jornalista Ricardo Noblat.

Uma mulher, que teria testemunhado o roubo, teria dito que os assaltantes eram jovens e estavam em grupo, com facas. Ainda de acordo com o depoimento do policial, a testemunha teria dito que alguns dos assaltantes eram negros.

A partir dos relato, o policial contou que iniciou as buscas aos suspeitos ao lado do outro policial, na viatura. Na rua Prudente de Morais, o policial disse que a dupla se deparou com os adolescentes agrupados e decidiram fazer a abordagem.

As informações sobre o depoimento foram repassadas a jornalistas pela delegada Danielle Bulus, que conduz a investigação. O policial também teria negado ter dito alguma palavra discriminatória aos filhos dos diplomatas.

Ao contrário do que havia sido divulgado inicialmente pela corporação, os agentes não utilizavam câmeras corporais. A Polícia Militar disse que o equipamento é obrigatório e irá apurar o motivo da ausência do equipamento.

Os adolescentes abordados já depuseram. Eles afirmaram que os PMs perguntavam o tempo todo: ‘Cadê? Cadê?’, mas que como não falam português, não compreenderam. Eles relataram ainda que foram colocados contra o muro do edifício e revistados, e que durante o procedimento tiveram as partes íntimas tocadas pelos policiais.

ENTENDA O CASO

Câmeras de segurança gravaram a abordagem da polícia em uma rua de Ipanema, na quinta (4). Os quatro adolescentes, de 13 e 14 anos de idade, voltavam da praça Nossa Senhora da Paz após jogar futebol e, ao chegar a um prédio, foram empurrados para a garagem e revistados.

“Um dos meus netos estava com os meninos vítimas da violência racista da polícia do Rio”, escreveu o jornalista Ricardo Noblat nas redes sociais. “Testemunha do episódio, o porteiro do prédio da rua Prudente de Moraes foi chamado a depor. Está assustado, e com razão.”

Segundo a mãe do jovem branco, Rhaiana Rondon, os quatro amigos moram em Brasília e estavam no Rio para passar férias, acompanhados dos avós de um deles, em uma viagem planejada havia vários meses.

“Foram abruptamente abordados por policiais militares, armados com fuzis e pistolas. Sem perguntar nada, encostaram os meninos no muro do condomínio”, disse Rhaiana. “Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados. Foram obrigados a tirar os casacos e levantar o saco.”

Ainda de acordo com o relato, os adolescentes foram questionados sobre o que faziam na rua. Os três filhos de diplomatas não entenderam a pergunta, por serem estrangeiros, e não conseguiram responder. O filho dela respondeu, e em seguida o grupo foi liberado.

“Antes alertaram as crianças para não andarem na rua, pois seriam abordados novamente”, afirmou a mãe. “A abordagem foi racial e criminosa.”

Itamaraty pediu desculpas aos pais dos jovens e divulgou nota pública. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, criticou a postura do órgão.

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