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FolhaPress

Polícia confirma 18 mortes em operação no Complexo do Alemão, no Rio

Considerando a contagem até o momento, a operação é a quarta mais letal da história do Rio de Janeiro

Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

A Polícia Militar e a Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmaram ao menos 18 mortos em uma operação realizada no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (21). A ação durou cerca de 12 horas, sendo finalizada por volta das 17h.

As corporações afirmaram, em entrevista a jornalistas, que este é um balanço parcial. Os corpos ainda estão sendo identificados pela Polícia Civil.

Considerando a contagem até o momento, a operação é a quarta mais letal da história do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense).

À tarde, a Defensoria Pública afirmou, com base em informações fornecidas por unidades de saúde da região, que havia 15 corpos na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Alemão e cinco no Hospital Estadual Getúlio Vargas. A reportagem da Folha viu sete corpos sendo carregados por moradores em lonas e toalhas.

Segundo as polícias, 16 morreram em confronto. Também foi vitimado o cabo Bruno de Paula Costa, 38, baleado enquanto estava trabalhando, em ataque à base da UPP Nova Brasília. Segundo a corporação, a morte foi uma retaliação à operação.

Ele ingressou na polícia em 2014, era casado e deixa dois filhos com diagnóstico de transtorno do espectro autista.​
Morreu ainda uma mulher que passava pela região e estava dentro de um carro com o namorado. Ele afirmou que Leticia Marinho, 50, foi assassinada por um policial, que não explicou por que atirou.

A Polícia Civil diz que está investigando esta morte. Questionado se algum policial foi identificado e afastado pelo fato, o subsecretário operacional da Polícia Militar, Rogério Lobasso, respondeu que primeiro é preciso entender a dinâmica, para então tomar as medidas necessárias.

Um dos corpos carregados por moradores foi identificado por vizinhos como Neves, de 23 anos. Sua tia, que não quis se identificar, disse à reportagem que dois policiais entraram em sua casa, em uma região conhecida como Sabino, agindo com violência. Ela estava acompanhada pela filha de três anos.

Segundo a polícia, foram apreendidos uma metralhadora .50 (capaz de derrubar helicóptero), quatro fuzis e duas pistolas. Na favela da Galinha, próximo ao Alemão, quatro homens em fuga foram alcançados e detidos, de acordo com a corporação.

A ação, que começou no início da manhã, contou com 400 policiais do Equipes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da Polícia Militar e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil. Também foram utilizados dez blindados e quatro helicópteros.

Ouvidor da Defensoria, Pimentel afirma que recebeu relatos de muitos mortos e feridos que ainda estavam na favela à tarde. A operação se estendeu por 12 horas, com tropas adentrando a comunidade.

“Temos informação de pessoas feridas dentro da favela, pedindo socorro. Neste momento estamos cobrando do Ministério Público que tome atitudes de controle da força policial para que haja estabilização [do terreno] e a gente possa entrar e checar as graves denúncias de violações de direitos humanos”, disse.

Mais cedo, o órgão recebeu denúncias sobre invasão de residências pela polícia e de helicópteros sendo utilizados como base para tiros. Ele afirma que moradores narraram intenso tiroteio e que eles estavam em pânico, inseguros dentro da própria casa.

Em nota, o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou que está acompanhando a operação policial para a “adoção das providências cabíveis”. O órgão foi comunicado da operação pela Polícia Militar às 5h40.

Segundo decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), apenas operações excepcionais podem ocorrer no estado enquanto durar a pandemia. O MP-RJ disse que a análise do cumprimento da determinação ​será realizada posteriormente, com a remessa da comunicação ao promotor natural.

A Polícia Militar disse que a operação foi necessária para coibir os criminosos da favela, que estão atuando em roubos a bancos, de veículos e de carga.
Segundo a corporação, as bases das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) Fazendinha e Nova Brasília foram atacadas por criminosos, que também derramaram óleo em via pública e atearam fogo em objetos.

A PM confirmou a morte do cabo Bruno de Paula Costa, 38, baleado enquanto estava trabalhando, em ataque à base da UPP Nova Brasília. Segundo a corporação, a morte foi uma retaliação à operação.

Costa foi socorrido ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu ao ferimento. Ele ingressou na polícia em 2014, era casado e deixa dois filhos com diagnóstico de transtorno do espectro autista.​

Moradores denunciaram que a Polícia Militar matou Leticia Marinho, 50, uma mulher que mora no Recreio, zona oeste da cidade, mas que estava no Alemão visitando a tia do namorado, identificado como Denilson.

Ele afirmou ao Voz das Comunidades, mídia local, que o casal saiu da casa da tia de carro e parou em um sinal na avenida Itaoca, com os vidros abertos, ao lado de um veículo da polícia. Segundo Denilson, não havia confronto no local naquele momento.

Ainda assim, segundo ele, a polícia atirou contra o seu carro. “Nem percebi que ela tinha sido alvejada. Quando olhei, ela já estava caindo para o meu lado”, disse.
Segundo Denilson, os agentes não explicaram por qual motivo efetuaram os disparos. A vítima deixa três filhos.

A investigação da morte está a cargo da Polícia Civil. Entidades de defesa dos direitos humanos frequentemente criticam o fato de a polícia investigar a própria polícia.
Interligados a essa operação, policiais militares do 3ºBPM (Méier), do 41ºBPM (Irajá) e de outros batalhões do 2º

Comando de Policiamento de Área (zonas norte e oeste do Rio de Janeiro) também atuaram nas comunidades Juramento e Juramentinho.
Em nota, a Polícia Militar afirmou que informações dos setores de inteligência indicaram a presença de criminosos do Complexo do Alemão praticando roubos de veículos, principalmente nas áreas dos bairros do Grande Méier, Irajá e Pavuna.

Segundo a polícia, o grupo vem realizando roubos a bancos e roubos de carga, além de planejar tentativas de invasão a outras comunidades.
Entre os roubos de carga, de acordo com a corporação, constam roubos de óleo diesel para derramar em ladeiras durante operações policiais, com o objetivo de dificultar o avanço das equipes.

Em meio à ação da polícia, a secretaria municipal de Saúde informou que as clínicas Zilda Arns e Rodrigo Roig, na região, suspenderam o funcionamento nesta quinta. As escolas municipais, em razão do recesso escolar, estão fechadas.

Moradores com quem a reportagem conversou relataram que se trancaram em casa e perderam o trabalho com medo dos disparos.
A operação ocorreu apesar da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que restringiu as operações policiais para casos excepcionais no estado do Rio de Janeiro, enquanto durar a pandemia da Covid-19.

Em maio, operação policial na Vila Cruzeiro, a segunda mais letal no estado, resultou na morte de 23 pessoas. A favela é vizinha ao Alemão, alvo da ação desta quinta-feira.
A operação mais letal ocorreu em maio de 2021, na favela do Jacarezinho. Foram mortas 28 pessoas, sendo um policial civil.

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro e a Ordem dos Advogados do Brasil no estado pediram que o governo do estado reduza em 70% as mortes por intervenção policial no prazo de um ano. As propostas foram encaminhadas ao Palácio Guanabara em junho.

Por Ana Luiza Albuquerque e Mariana Moreira

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