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Programas de saúde mental em empresas mapeiam sintomas e nível de estresse

Iniciativas ajudam a aumentar produtividade, diminuir faltas e rotatividade de funcionários

Com o aumento dos casos de ansiedade e depressão causados pela pandemia, programas voltados para cuidados com saúde mental têm sido cada vez mais incorporados às rotinas das empresas.

Além da atenção aos profissionais, as iniciativas são também uma forma de aumentar a produtividade, diminuir o número de faltas e até a rotatividade de funcionários que abandonam seus cargos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada R$ 1 investido em tratamentos e prevenção de transtornos mentais no ambiente de trabalho, R$ 4 retornam em saúde e produtividade para a empresa.

De olho nesse cenário, departamentos de RH têm buscado consultorias especializadas na organização de projetos e oferta de benefícios com base em diagnósticos das equipes.

A procura por esse tipo de serviço explodiu desde 2020. A OrienteMe, por exemplo, fundada em 2017, quadruplicou de tamanho em 2021. A cofundadora Daniela Haidar explica que antes da pandemia a demanda já existia, mas as empresas eram mais hesitantes, e as decisões, mais lentas.

Hoje, ela atende muitas empresas que já sabem que precisam urgentemente de ajuda na gestão da saúde mental dos funcionários e não sabem como agir.

Para o planejamento, as consultorias mapeiam quais setores e equipes estão mais estressados, quais os sintomas mais comuns, quantas pessoas já cuidam da própria saúde mental e outros aspectos que servem para orientar o plano de ação. A partir disso, fornecem serviços de acompanhamento psicológico online em vários formatos para os funcionários.

As opções vão além da psicoterapia por vídeoconferência, incluindo atendimento anonimizado, por mensagens de texto e conteúdos como meditações, palestras e leituras, que são sugeridos por inteligência artificial.

Um dos desafios é justamente alcançar quem precisa de ajuda, já que muitas pessoas ainda têm resistência em buscar tratamento psicológico.

Haidar conta que das mais de 220 mil pessoas atendidas pela OrienteMe, 50% tiveram o primeiro contato com a psicoterapia por meio da plataforma.

Sem a mudança de hábitos, normas e valores da empresa, no entanto, a oferta desses programas é uma medida meramente paliativa, diz Daniel Rodrigues, especialista em recrutamento da Robert Half, consultoria especializada em recursos humanos.

“Não vai resolver de forma definitiva ou, pelo menos, trazer uma solução em que o time enxergue um horizonte de evolução ou de melhora da vida do profissional.”

Michael Kapps, fundador e CEO da Vitalk, empresa que presta um serviço semelhante ao da OrienteMe, explica que, hoje, a análise diagnóstica das empresas frequentemente revela problemas que vão além dos causados pela pandemia.

“Muitas vezes tem a ver com Covid, mas tem a ver com outras coisas também. As políticas da empresa, algumas lideranças que não lideram de um jeito consciente, lideram de forma autoritária e isso gera problemas na cultura interna da empresa.”

A Vitalk, por exemplo, disponibiliza para os departamentos de RH uma biblioteca de centenas de recursos e conteúdos sobre várias temáticas dentro da saúde mental. Kapps diz ser uma “Netflix da saúde mental”.

Não há uma métrica específica para medir o impacto das iniciativas, mas as empresas acompanham os níveis de ansiedade, depressão e estresse nas equipes em comparação com o cenário antes das intervenções, assim como as estatísticas de uso de plano de saúde, de rotatividade, absenteísmo, nível de satisfação e produtividade.

Para o diretor de RH da General Motors na América do Sul, Christian Cetera, um dos parâmetros usados para medir a efetividade dos programas de saúde mental adotados pela montadora foi também a estabilidade no número de afastamentos.

De acordo com o Ministério da Economia, os transtornos comportamentais e de saúde mental já são a terceira causa de afastamento no Brasil. Em 2020, a empresa viu seus números de afastamento por licenças médicas psiquiátricas triplicar em comparação com a média anterior.

Partindo da situação que os funcionários enfrentavam, principalmente em relação ao luto pela perda de colegas de trabalho, a GM organizou atividades internas comandadas pelo psicanalista e professor da USP Christian Dunker e pelo educador e palhaço Claudio Thebas.

O programa uniu conteúdo acadêmico e formato lúdico e falou sobre luto e os estigmas do sofrimento mental para mais de 700 funcionários.

Cetera explica também o projeto-piloto que foi desenvolvido com 60 líderes sobre saúde mental, escuta ativa e atenção primária.

O projeto construiu uma rede de apoio dentro da empresa e a próxima fase deve incluir 700 líderes que se tornarão “embaixadores da escuta”.

“Tivemos casos de prevenção de suicídios, de transformação de vida, de pessoas que construíram um espaço de tomar decisões de vida muito profundas, pessoas que resolveram buscar ajuda profissional”, conta o diretor de RH.

Sobre a manutenção dessas iniciativas no futuro, Rodrigues, da Robert Half, diz que a busca por ambientes de trabalho mais saudáveis é uma tendência que se relaciona com o momento da sociedade, em que as pessoas estão externalizando mais os seus desconfortos.

Já Cetera acredita que as novas práticas estão abrindo caminhos que devem perdurar, justamente por possibilitarem mudanças culturais nas empresas.

Por Isabela Lobato

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