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Do Mais Brasília

Sem conseguir escoar mercadoria, Correios mantêm doações para o RS paradas em SP; carga de Cajamar equivale a mil caminhões

Para se ter uma ideia, se a estatal resolvesse escoar toda a doação armazenada somente na Unidade de Tratamento de Cajamar, seria necessário algo em torno de mil e duzentos caminhões para transportar a carga ao Rio Grande do Sul

Foto: Emerson Nogueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Doações da população de todo o país, arrecadadas através de campanha Oficial dos Correios, para vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul (RS) estão paradas há quase dois meses em galpões em duas unidades de tratamento de São Paulo – Cajamar e Indaiatuba – porque a estatal não consegue escoar a carga. Além destes dois locais, também há mercadoria parada em outros pontos de São Paulo, e em Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.

A informação foi revelada ao portal Mais Brasília (MB) por delegados sindicais, membros da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares de São Paulo (Sintect-SP). Para se ter uma ideia, se a estatal resolvesse escoar toda a doação armazenada somente na Unidade de Tratamento de Cajamar, seria necessário algo em torno de mil e duzentos caminhões para transportar a carga ao Rio Grande do Sul.

“O Cajamar está lotado. Dá umas 1.200 carretas. Tem que instigar a população e os políticos para visitar o centro de Indaiatuba e Cajamar. E isso só representa 3% do que tem de carga parada nos centros operacionais dos Correios”, disse fonte do MB.

“A maior parte das doações está parada. Nos Correios, nossos galpões têm 12 metros de altura. Quem não conhece nossa logística pensa que galpão consegue armazenar, mas não consegue porque nossa logística não é para armazenamento e sim para transporte, as mercadorias não podem ficar paradas. Com as doações, será mais prejuízo,  porque não temos caminhões nem condições operacionais para escoar essa quantidade de doações. A empresa está contratando caminhões e galpões de maneira emergencial, sem licitação. E mesmo assim não é o suficiente porque não temos dinheiro para contratação de tantos caminhões. São Paulo inteira está lotada de doações, tem comida estragando”, informa fonte do MB. “Se não tem condições de guardar, porque continuar essa campanha?”, questiona.

Enquanto isso, também existem mercadorias dos clientes paradas há dias em locais desapropriados para armazenamento. Como em uma pista do Aeroporto de Guarulhos.

“Na pista, em frente ao Terminal 1, ao lado dos Correios, no mato, bem em frente à obra do G300, aqui no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, tem uma enorme quantidade de mercadoria parada.”, revelou um funcionário do aeroporto ao MB, na tarde desta terça-feira (25/6).

“Quem vê essa mercadoria parada e não entende pode pensar que isto é normal. Mas não é. Essa carga jogada ao relento configura crime. Dá uma olhada no título V da Lei Postal”, explicou ao MB um dos trabalhadores da estatal, membro da CIPA. (veja aqui a Lei Postal).

 

CAMPANHA OFICIAL 

Nas redes sociais, a Campanha Oficial dos Correios convocando a população para doar alimentos, água, itens de higiene pessoal e limpeza continua. A iniciativa começou no dia 2 de maio, logo após a tragédia provocada pelas enchentes no Sul do país.

Segundo o próprio presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos, os Correios haviam arrecadado, até 22 de maio, 15 mil toneladas de mercadoria, das quais 3 mil teriam sido transportadas via terrestre. Em um mesmo post divulgado no Instagram, em que o presidente da estatal fala do êxito da campanha, há dezenas de comentários das pessoas questionando acerca da entrega das doações e/ou da entrega das próprias encomendas.

“Onde estão as doações? Vocês estão levando para o governo? Ou guardando em depósito?”, pergunta uma internauta. “E conseguem entregar? Porque na minha rua toda transportadora vem trazer encomendas, menos os Correios”, disse outra internauta.  “Se os Correios tivessem realmente consciência do seu caráter público, não teriam deixado os gaúchos na mão, desviando sua funções e paralisando por completo os serviço, sem previsão alguma para retomada, diz um internauta, de Dois Irmãos (RS).

Em postagens recentes, uma delas feita no último domingo (23/6), para mostrar que patrocinou a Confederação Brasileira de Ginástica, os Correios também são cobrados pelas encomendas.

“Encomendas paradas há 20 dias em GRU”. “De que adianta estar com os atletas, se atrasam as encomendas”. “Que descaso, encomendas paradas desde o dia 11/6”. “Um descaso total, estou com encomendas atrasadas desde o dia 11, comprei outros produtos bem depois, que foram enviados por outras transportadoras e chegaram faz tempo”.

O portal Mais Brasília procurou a assessoria dos Correios na última terça (25) que, até o momento, não retornou. O portal está à disposição da assessoria e da gestão da estatal para respostas e/ou esclarecimento dos fatos.

 

RIO GRANDE DO SUL 

No Rio Grande do Sul, pessoas que precisam das doações, arrecadadas ou não pelos Correios, enfrentam dificuldades para recebê-las e/ou até as recebe com defeito. Isto porque, para além da demora e/ou da logística de transporte, o próprio estado encontra dificuldades na distribuição das mercadoras.

“Tem águas armazenadas em vários locais, porque vieram toneladas de água mineral que não foram distribuídas e estão criando limo”, disse uma moradora de Grande Porto Alegre.

Segundo noticiou a RBS (afiliada Globo), na última segunda (24), voluntários que atuam na central de distribuição de doações da Defesa Civil estadual em Porto Alegre encontraram milhares de litros de água expostos ao ar livre, na parte externa do local. O armazenamento inadequado, que seguia até segunda-feira (24), deixou parte dos itens com cor esverdeada.

A Defesa Civil do RS justifica que as águas deixadas do lado de fora estão próximas do prazo de validade e que tem realizado a distribuição de garrafões para escolas, hospitais e instituições de caridade. No entanto, não consegue diminuir o estoque, que segue grande.

 

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