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FolhaPress

Surto de Covid em hospital de Porto Alegre contamina 59 pessoas

As vítimas, segundo a assessoria do hospital, são um homem de 78 anos, e duas mulheres, uma de 84 e outra de 58 anos

Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre
Foto: Ocimar Pereira/Imprensa GHC/Divulgação

Um surto do novo coronavírus infectou pelo menos 59 pessoas e provocou a morte de três pacientes internados no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, no intervalo de uma semana.

As vítimas, segundo a assessoria do hospital, são um homem de 78 anos, e duas mulheres, uma de 84 e outra de 58 anos, os três com histórico de comorbidades.

O homem e uma das mulheres foram vacinados com duas doses de imunizante contra o novo coronavírus, enquanto a terceira paciente tinha recebido apenas a primeira dose.

No total, segundo a última atualização divulgada nesta terça-feira (10/8), entre os infectados estão 44 pacientes e 15 funcionários do hospital, que tiveram teste com resultado positivo para o vírus –o primeiro deles no dia 4 de agosto. O último registro de paciente com sintomas é do dia 7.

Dos pacientes, cinco foram encaminhados para leitos de UTI devido ao agravamento do quadro de saúde. Já entre os funcionários, apenas um foi internado em leito clínico, enquanto os demais seguiram tratamento domiciliar.

Dados divulgados pelo hospital apontam que 84,6% dos pacientes haviam sido vacinados com a primeira dose e 64,1% com a segunda. Entre os trabalhadores, a taxa de vacinados é de 93% com as duas doses.

Segundo o médico Renato Cassol, infectologista e coordenador do serviço de controle de infecção do Nossa Senhora da Conceição, o surto com número de casos elevado e em pouco tempo, como esse, é inédito na unidade, o que alertou para a possibilidade de relação com a variante delta.

Entre as medidas adotadas para conter novos casos estão a suspensão de visitas e cirurgias eletivas e a emergência ficou limitada apenas para casos graves. Ainda não se sabe a origem do surto.

“O primeiro paciente que desenvolveu Covid-19 veio de outro hospital. Ele veio e, provavelmente, estava em período de incubação e desenvolveu Covid”, disse Cassol. “Outra coisa que pode ter acontecido é algum familiar ter vindo infectado e contaminado paciente.”

O protocolo do hospital para visitas, antes do surto, previa triagem –com verificação da temperatura e de possíveis sintomas de gripe–, permitindo apenas um visitante por paciente por dia e por 30 minutos.

O Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública do Estado) deve enviar amostras relacionadas aos casos à Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), para identificar a cepa relacionada ao surto, ainda esta semana. Quatro casos analisados até agora pelo Cevs (Centro Estadual de Vigilância em Saúde) foram identificados como prováveis casos da variante delta.

Segundo o boletim epidemiológico mais recente do estado, entre a 17ª semana de 2020 e a 30ª semana de 2021 (encerrada em 31 de julho), foram registrados 1.552 surtos associados ao novo coronavírus, com cerca de 280 mil pessoas expostas. Mais da metade dos casos foram identificados em instituições de longa permanência de idosos.

Os surtos em hospitais não são contabilizados neste dado, por não serem considerados locais fechados, uma vez que recebem diversos públicos diariamente, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.

“O que ocorreu em muitos países e que mais nos preocupa é que ocorra um aumento de hospitalizações e de óbitos [com a delta]”, disse Richard Steiner Salvato, especialista em saúde do Lacen/Cevs.

“O estado passa por um momento de relaxamento das medidas, não só por parte da gestão pública, mas a população em si também tem um relaxamento dos cuidados. Tudo isso cria um ambiente que é perigoso com a disseminação da delta, porque temos uma variante mais transmissível, que o contágio é mais fácil e a taxa de ataque é grande. Os cuidados necessitam ser redobrados.”

Nas últimas semanas, pelo menos outros dois hospitais do Rio Grande do Sul registraram surtos relacionados ao novo coronavírus, um deles também em Porto Alegre e outro no interior.

No Hospital Vila Nova, com atendimento integral pelo SUS, na capital, 29 pacientes e 15 funcionários foram infectados. Muitos dos infectados estavam assintomáticos e foram identificados no rastreamento de casos, segundo a assessoria da unidade. O local chegou a ser bloqueado, mas já está reaberto para internações, com fluxo normal.

O Hospital Annes Dias, em Ibirubá, região noroeste do estado, identificou dois funcionários e três pacientes com testes positivos, que podem ter relação entre si. Além disso, oito familiares de pacientes também apresentaram diagnóstico positivo para o Sars-CoV-2. Um suposto surto está em investigação. Os primeiros resultados foram identificados no último sábado.

Com as medidas adotadas, o hospital acredita que a disseminação esteja controlada, já que nenhum caso novo foi identificado, mas os envolvidos seguem sendo monitorados.

Para o infectologista e professor da faculdade de medicina da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Alexandre Zavascki, que trabalha com casos da Covid-19 em dois hospitais da capital, há um relaxamento de medidas sanitárias de segurança mesmo dentro de hospitais, no momento atual da pandemia.

“A gente teve ao longo do pandemia vários surtos hospitalares, algo que aconteceu no mundo inteiro, mas investigando a gente via que aconteciam nas áreas de convívio dos profissionais de saúde, não exatamente à beira do leito, onde as pessoas estão todas com as proteções.”

Ele afirmou que ao longo da pandemia foram acompanhados casos de contaminação de pacientes a partir de familiares. “Às vezes, o hospital transmite uma sensação de segurança, a pessoa relaxa ao lado do seu parente e fica sem usar máscara. Tem essas portas de entrada, o hospital não é uma barreira impenetrável ao que vem da rua.”

Matéria escrita por Fernanda Canofre

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