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Vacinas contra Covid adaptadas a variantes ainda são promessas

Quando a variante ômicron surgiu, laboratórios e pesquisadores começaram uma nova corrida das vacinas

Quando a variante ômicron surgiu, laboratórios e pesquisadores começaram uma nova corrida das vacinas: produzir um imunizante atualizado para evitar o escape vacinal pela nova cepa.

Além de evitar explosões de casos de Covid, o aperfeiçoamento das composições é considerado estratégico por especialistas porque, quanto mais o vírus circula, maior a chance de ele desenvolver variantes que podem fugir da proteção conferida pelas vacinas.

No entanto, essas inovações continuam como algo para o futuro, já que as farmacêuticas ainda realizam os estudos para o desenvolvimento dessa nova geração de vacinas.

A atualização de imunizantes com base em mutações ocorridas nos vírus ou o desenvolvimento de vacinas que consigam manter um alto nível de eficácia mesmo com essas variações já é comum para vacinas contra outras doenças, lembra Flávio Fonseca, presidente da SBV (Sociedade Brasileira de Virologia) e virologista do departamento de microbiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

“Nós sabemos que uma característica intrínseca de alguns vírus é sofrer mutações com maior frequência do que outros”, diz Fonseca. Um desses casos é o vírus da influenza que, por causa de sua alta taxa de mutação, conta com renovações nas vacinas a cada ano.

Com o Sars-CoV-2 não é diferente, já que inúmeras variantes foram registradas ao longo da pandemia. No entanto, ele ainda é um vírus considerado novo, tornando difícil desenvolver uma rede de vigilância epidemiológica que trabalhe nas mutações de forma sistemática –algo que já acontece com a influenza.

“Como nós ainda vivemos em uma situação pandêmica da Covid-19, não temos padrões bem estabelecidos, dificultando a montagem de um sistema de vigilância. Nós esperamos que, no futuro, esse vírus deixe de causar uma pandemia e daí é possível estabelecer de forma mais eficaz esse sistema de vigilância”, afirma o virologista.

Mesmo com essa instabilidade, algumas farmacêuticas já se atentaram às principais variantes, como a ômicron, a fim de atualizar suas vacinas.

A Pfizer, por exemplo, afirmou que “assim que a existência de uma nova variante é confirmada […] começam os estudos do impacto da nova cepa na eficácia da vacina atualmente distribuída e, a partir da informação desses estudos, avaliam a necessidade de desenvolver uma nova versão do imunizante”.

Segundo a farmacêutica, um estudo está sendo feito para uma vacina específica contra a ômicron com resultados esperados para o primeiro semestre deste ano.

Iniciativa semelhante é feita pela Moderna, cuja vacina ainda não está disponibilizada no Brasil. Em conferência em 24 de março, a empresa divulgou as diferentes vacinas em que vêm trabalhando. Para a ômicron, por exemplo, estudos de fase dois estão sendo feitos, faltando a fase três para avaliar a eficácia do imunizante.

O Instituto Butantan, responsável pela Coronavac no Brasil, afirmou que junto à Sinovac -fabricante chinesa da vacina- já trabalha em uma atualização “não só para ômicron, mas também para variantes em geral”.

A Janssen, por outro lado, afirmou que avalia constantemente a eficácia da vacina contra novas variantes, mas indicou que há um “corpo de evidências crescente que mostra que a eficácia da vacina […] permanece forte e estável no decorrer do tempo, inclusive contra as variantes circulantes como ômicron e delta”.

De maneira semelhante, a AstraZeneca informou que não trabalha em atualizações da sua vacina ou no desenvolvimento de uma nova, pois “até o momento não há qualquer evidência científica sobre a necessidade de modificar as vacinas existentes”.

O dilema é que desenvolver uma nova vacina para as variantes pode ocorrer enquanto outras cepas, com potencial de se tornarem prevalentes, venham a surgir.

“Não adianta muito fazer uma vacina hoje para a ômicron e daqui a seis meses, quando ela for produzida e distribuída, já ter uma outra variante que for circulante, e o imunizante não ser muito eficaz”, afirma Renato Kfouri, diretor da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações).

Um caminho para contornar esse problema seriam as pesquisas das chamadas vacinas universais, que conservam as capacidades de imunização mesmo com as variantes.

No Brasil, iniciativas assim já vêm sendo desenvolvidas. Um desses exemplos está na UFMG, com a colaboração de Batista. Ele explica que grande parte das pesquisas utilizam a proteína S (spike) -usada pelo vírus para penetrar a célula humana- para o desenvolvimento das vacinas.

O problema é que é muito mais comum essa proteína sofrer mutações, fazendo com que o imunizante perca certa eficácia a depender da variante.

“Uma alternativa seria utilizar outras proteínas do vírus e não somente a proteína S. Por exemplo, existe a proteína N (nucleocapsídeo), que não está exposta na superfície do vírus, portanto ela está menos suscetível a sofrer mutações”, afirma.

Na UFMG, os pesquisadores desenvolveram uma quimera, nome dado a uma proteína artificial. Nela, se encontra a proteína N e também a S porque, mesmo com sua alta suscetibilidade à alteração, continua importante para o desenvolvimento da resposta imune.

Atualmente, o imunizante está em fase de estudos em animais e espera obter autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para poder seguir para testes em humanos.

Outro projeto brasileiro é de uma vacina nasal que está sendo desenvolvida no laboratório do Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da USP.

“É importante uma vacina que induza uma boa resposta nas vias aéreas superiores, porque ela barraria a infecção e, potencialmente, a transmissão do vírus”, afirma Jorge Kalil, pesquisador responsável por essa outra candidata a vacina.

Ele explica que, neste projeto, a ideia é que a vacina induza um anticorpo chamado IgA secretor, comumente encontrado nas mucosas. “Isso iria proteger a população contra uma infecção. Além disso, também temos componentes para induzir uma boa resposta celular que seria algo vantajoso no combate a infecção, caso ocorra.”

Esse outro tipo de resposta baseada nas células T já vem sendo investigada, por ter se mostrado importante contra infecções do Sars-CoV-2. Esse caminho também seria útil, por ter chance de conferir resposta imune mesmo com variações que o vírus sofra na proteína S.

No momento, Kalil planeja realizar as fases clínicas em humanos, mas encontra “dificuldades na produção dos lotes que sejam aplicáveis na clínica para iniciar os testes”.

Por Samuel Fernandes 

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