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FolhaPress

Vacinas usam células matadoras naturais para barrar ômicron, diz estudo

Mesma proteção foi observada contra diferentes variantes

Foto: Reprodução/Agência Brasil

As vacinas contra Covid foram produzidas em um momento da pandemia anterior ao surgimento das variantes do vírus que causam preocupação, conhecidas como VOCs, na sigla em inglês. Entre elas, a ômicron foi a responsável pelo maior registro de casos em todo o mundo, no dia 28 de dezembro de 2021.

Em parte, esse aumento de casos provocados pela ômicron pode ser explicado pela flexibilização de medidas para controle da pandemia em diversos lugares e, também, por uma habilidade dessa cepa de escapar parcialmente da proteção dada pelas vacinas, especialmente contra as infecções.

Porém, mesmo os recordes de casos mundiais não foram acompanhados de aumentos proporcionais em hospitalizações e mortes –isso pode ser devido à proteção celular das vacinas contra a ômicron.

Um estudo publicado na última terça (15), no periódico científico Science Translational Medicine (do mesmo grupo da Science, uma das revistas mais prestigiadas), apontou que as vacinas Pfizer, Moderna e Coronavac conferem um tipo de proteção celular associado às células matadoras naturais (NK, na sigla em inglês). Elas são capazes de identificar e atacar as células infectadas pelo Sars-CoV-2.

Ainda de acordo com o estudo, a mesma proteção foi observada contra as diferentes variantes, como beta, delta e, mais importante, ômicron, o que pode explicar como ela provoca maior número de casos, mas que, em geral, são leves, sem necessidade de internação.

Na pesquisa, que inclui pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Chile, da Escola de Medicina de Harvard e da Escola de Medicina Icahn do Instituto Mount Sinai, em Nova York, foram avaliadas amostras de sangue de 38 participantes, dos quais 14 receberam duas doses da vacina da Pfizer, 13 da Coronavac e 11 foram injetados duas vezes com o imunizante da Moderna.

Além da atividade de proteção celular, os pesquisadores analisaram também os anticorpos do tipo IgG, IgM e IgA (respectivamente, imunoglobulinas G, M e A; o primeiro está associado à memória e aparece depois de uma infecção, os outros dois são produzidos no início de uma infecção ou frente a um antígeno).

As amostras foram testadas contra a primeira forma do vírus (D614G), e contra a alfa, beta, delta e ômicron.
Primeiro, eles observaram uma queda de anticorpos que se ligam à região chamada RBD (domínio de ligação com o receptor, a parte do vírus que ele usa para se ligar e invadir o hospedeiro) contra a ômicron. Isso ocorreu em todas as vacinas estudadas.

No entanto, os anticorpos que se ligam à proteína spike do vírus (ou espícula, uma das proteínas usadas pelo vírus para se ligar às células) continuaram a ser produzidos.
Já os anticorpos que se ligam às células matadoras naturais por meio de receptores específicos conhecidos como Fc –e, assim, ativam essas células a iniciarem um processo de defesa no organismo– são mantidos nas três vacinas.

A ativação dessas células é importante para auxiliar no ataque às células infectadas pelo Sars-CoV-2, mas sem atacar células saudáveis do organismo, explica a imunologista e professora associada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Isabel Santos.
“Uma das funções da interação do Fc é ativar leucócitos [células de defesa] especializados conhecidos como matadores naturais [ou NK], que possuem substâncias que destroem as células infectadas pelo vírus. Eles funcionam como uma ponte entre o anticorpo, o vírus e as células do sistema imune”, explica.

Porém, a pesquisadora lembra que essa ativação deve ser capaz de identificar apenas as células acometidas pelo Sars-CoV-2.
“Antes de desencadear esse processo, para evitar ‘fogo amigo’ e focar somente nas células infectadas, os receptores Fc precisam ser ativados pelos anticorpos produzidos contra a spike. A perspicácia do estudo foi entender que esses anticorpos não precisam necessariamente ser específicos contra a região de domínio de ligação [RBD], eles podem se ligar a várias outras regiões da proteína viral e ativar as NKs”, disse.

No artigo, os autores afirmam que observaram uma queda mais pronunciada de anticorpos anti-RBD contra a ômicron, provavelmente associado ao acúmulo de mutações em tal região na variante.
Apesar dos resultados positivos, o estudo possui algumas limitações, pontuam os autores.

Entre elas está o fato de terem avaliado uma quantidade relativamente pequena de amostras (38) e que só foi analisada a resposta protetora três semanas após a segunda dose –pesquisas mais recentes indicam que a proteção, pelo menos aquela medida por anticorpos, das vacinas cai após quatro a seis meses.
No entanto, é um achado importante, especialmente em um momento em que muitos países permanecem ainda com uma baixa cobertura vacinal.

“Assim, é urgente entender como as diferentes vacinas conferem imunidade contra a ômicron para direcionar os esforços para aumentar o acesso global às vacinas”, diz o estudo.
“Ainda, definir os mecanismos imunológicos por trás da atenuação da gravidade da doença na ausência de uma neutralização [total] do vírus pode ser a chave para guiar o desenvolvimento de vacinas do tipo pancoronavírus, efetivas contra as diferentes formas do vírus, e desenhar campanhas de reforço”, completa.

Por Ana Bottallo

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