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Vereadora trans acusa salão de beleza de negar atendimento em Belo Horizonte

Primeira transexual eleita em BH, Duda Salabert não conseguiu fazer sobrancelha

Primeira transexual eleita em Belo Horizonte, a vereadora Duda Salabert (PDT), 40, teve o atendimento negado em um salão de beleza da cidade nesta segunda-feira (25) e decidiu fazer uma denúncia formal sobre o caso.

“Fui fazer minha sobrancelha. Atendente: só fazemos sobrancelha feminina. Eu: a minha é feminina. Atendente: não atendemos homem”, ela relatou nas redes sociais.

Segunda Duda, a recusa se manteve mesmo após ela informar que é uma mulher trans e contou com o endosso das demais funcionárias do salão: “Não te atenderemos”.

“Fui à administração do shopping e fiz a reclamação. O shopping pediu desculpas. Amanhã farei a denúncia formal”, disse Duda. “Recusaram me atender por eu ser uma mulher transexual. Amostra da transfobia diária desse país”.

Em nota, o Shopping Cidade, onde fica o salão em que Duda tentou fazer a sobrancelha, repudiou a discriminação e prometeu apurar o ocorrido e atuar na conscientização dos lojistas para que esse tipo de situação não aconteça novamente.

“Vale reforçar que o Shopping Cidade sempre foi um ambiente diverso e tem como sua bandeira ser um shopping para todos”, diz a nota.

Ativistas famosos, como a cantora Daniela Mercury, prestaram solidariedade à parlamentar. “É revoltante”, disse a artista. “Absurdo, mana!”, afirmou a vereadora Erika Hilton (PSOL-SP), 28.

Vereadora mais votada na capital mineira, com 37.613 votos, Duda já sofreu outras discriminações, inclusive na Câmara Municipal. No dia da posse, o vereador Wesley Autoescola (Pros) ignorou o desempenho eleitoral da parlamentar e parabenizou a Professora Marli (PP), afirmando que a pepista foi a mulher que recebeu mais votos na cidade. Professora Marli foi eleita com 14.496 votos.

“Faço parte de um grupo cuja humanidade é negada. Como cristã, evangélica, coloco-me também a serviço da bancada cristã para a gente fazer um exercício daquilo que Cristo nos ensinou, que é o respeito, o amor, e não o ódio, a intolerância a violência e o crime”, reagiu Duda.

Na ocasião, a vereadora disse à Folha que não ficaria quieta diante da criminalidade que atinge pessoas transexuais.

De acordo com dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 80 pessoas trans foram assassinadas no Brasil no primeiro semestre de 2021. Além disso, boletim da associação mostra que foram registradas 33 tentativas de assassinatos e 27 violações de direitos humanos.

Em 2020, no ano todo, 175 pessoas trans foram assassinadas.

“O país naturalizou um processo de marginalização e precarização para a aniquilação das pessoas trans”, diz a Antra. “O ciclo de violência que afeta travestis e mulheres trans se assemelha na medida em que a morte é o ponto final de uma série de violações anteriores”.

Duda e outras parlamentares transexuais usam os espaços que conseguiram nas tribunas e nas redes sociais para denunciar essa situação.

Eleita com mais de 55 mil votos para a Assembleia Legislativa de São Paulo, Erica Malunguinho (PSOL), 39, tem o combate à transfobia como uma de suas bandeiras. Erika Hilton, primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo, recebeu recentemente o prêmio Most Influential People of African Descent (Mipad), apoiado pela ONU, que reconhece as pessoas negras mais influentes do mundo.

Erika preside a CPI da Violência Contra Pessoas Trans na Câmara de São Paulo. Em reunião realizada no dia 15 de outubro, a CPI ouviu depoimentos como o da artista trans Laura Cruz, vítima de abordagem violenta por um agente da Guarda Civil Metropolitana da capital. O agente foi afastado após divulgação de imagens da agressão.

Por Cristina Camargo 

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