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FolhaPress

Homem que planejou ataque a bomba no DF entrou no Congresso com aval de senador

George Washington foi autorizado por Zequinha Marinho a entrar no Senado para audiência; senador nega relação com condenado

Foto: Divulgação

Preso e condenado por planejar o atentado a bomba em um caminhão de combustível perto do aeroporto de Brasília, George Washington de Oliveira Sousa entrou no Congresso Nacional em novembro do ano passado com autorização do gabinete do senador Zequinha Marinho (Podemos-PA).

George Washington, 24 dias antes da tentativa de atentado em Brasília, acompanhou uma audiência pública no Senado, promovida pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), com ataques ao sistema eleitoral e pedidos de golpe militar.

O nome do senador que liberou a entrada é mantido sob sigilo pelo Senado Federal, mas foi obtido pela Folha por pessoas com acesso à informação. Questionado, o Senado alegou que a divulgação representava “risco de violação à prerrogativa do sigilo da fonte”.

Em maio, George Washington foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão. Ele foi convocado pela CPI do 8 de janeiro e deve prestar depoimento nesta quinta-feira (22).

Zequinha Marinho afirmou que não tem “nenhuma relação” com o condenado. O senador disse que, horas antes da audiência pública, seu gabinete foi procurado por um grupo de pessoas que afirmava ser do Pará —estado do senador— e que sua única motivação foi permitir o acesso de cidadãos ao encontro.

A assessoria do senador ressaltou ainda os procedimentos de segurança adotados pelo Senado Federal e disse que o condenado só entrou no prédio após fazer um cadastro na portaria e passar pelo detector de metais.

“Só após cumprir esse procedimento do Senado Federal é que [os cidadãos] foram liberados para acessar o plenário da Comissão”, disse o gabinete de Marinho.

“Não existe nenhuma relação do senador com os três citados [George Washington e outros dois acusados de participação no atentado frustrado]. Enfatizamos que a única motivação para liberar o acesso foi o de permitir cidadãos paraenses de participarem de uma audiência que era pública. Inclusive, é válido dizer que desses três, apenas um foi liberado pelo gabinete.”

Apesar do protocolo de segurança, policiais legislativos desconfiam que parte dos vândalos que invadiu os Três Poderes em 8 de janeiro acompanhou a audiência pública e aproveitou a entrada no Senado para mapear alguns pontos do prédio.

Chamou atenção da Polícia Legislativa que alguns agressores vieram preparados para escalar o Congresso e pareciam saber, por exemplo, onde estavam os hidrantes —ligados para conter o efeito das bombas de gás lacrimogêneo.

A audiência pública foi organizada por Girão na Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle para discutir o tempo de propaganda dos candidatos nas eleições, que havia sido contestado, sem provas, pela campanha de Jair Bolsonaro (PL).

Durante a audiência, parlamentares bolsonaristas, advogados e ativistas fizeram ataques ao processo eleitoral e ao STF (Supremo Tribunal Federal), pediram a prisão ou impeachment do ministro Alexandre de Moraes e chegaram a defender um golpe militar.

Os outros dois acusados de participação no episódio frustrado da bomba, Alan Diego dos Santos Rodrigues e Wellington Macedo de Souza, também estavam na comissão do Senado no dia.

Girão nega que seu gabinete tenha sido responsável pela entrada do trio. Segundo relatos feitos à Folha, Alan e Wellington foram liberados pela própria comissão, que durou mais de 11 horas e contou com a presença não só de senadores, mas também de deputados federais.

Procurado, Girão afirmou que “um número significativo de pessoas participou entre convidados e não convidados”. Ele disse que cerca de 40 parlamentares, entre senadores e deputados federais, fizeram uso da palavra.

“No dia da audiência pública estava presidindo a sessão e, por conta disso, totalmente focado no seu melhor andamento, sem que tivesse atuado no sentido de liberar a entrada dessas relatadas pessoas na comissão”, declarou em nota.

George e Alan foram condenados por expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outro, mediante colocação de dinamite ou substância de efeitos análogos, além de causar incêndio em combustível ou inflamável.

George ainda foi condenado por porte ilegal de arma de fogo e artefato explosivo ou incendiário. George e Alan estão presos, enquanto Wellington está foragido.

Segundo o Ministério Público do Distrito Federal, os três se conheceram no acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

O objetivo deles, segundo as investigações, era cometer algum crime que pudesse causar comoção social e instigar um golpe militar. George Washington saiu do Pará no dia 12 de novembro com armas, munição e dinamites. No dia 23 de dezembro, o grupo elaborou o plano do dia seguinte.

George Washington montou a bomba; Alan Diego colocou o artefato embaixo do caminhão de combustível; e Wellington Macedo levou Alan Diego até o aeroporto de Brasília.

A explosão acabou frustrada porque o motorista do caminhão desconfiou e acionou a polícia. O veículo estava carregado de querosene de aviação e tinha capacidade para 60 mil litros.

Procurada pela Folha nesta quarta-feira (21) por meio de sua defesa, George Washington não quis se manifestar.

Por Thaísa Oliveira

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