Cinema do CCBB Brasília recebe Retrospectiva Geraldo Sarno de 23/5 a 11/6
Mostra inédita do conceituado cineasta baiano com 26 filmes e atividades formativas com a presença do curador e bate papo com convidados especiais
O Centro Cultural Banco do Brasil Brasília apresenta a Retrospectiva Geraldo Sarno que exibirá, integralmente, a filmografia do cineasta baiano Geraldo Sarno – uma das grandes referências do cinema brasileiro moderno –, recentemente falecido em decorrência de COVID-19.
A retrospectiva inédita, de 23 de maio a 11 de junho, exibirá 26 filmes (9 longas, 5 médias e 12 curtas-metragens). São documentários e ficções de um diretor combativo, perseguido pela ditadura militar, e cuja carreira se estendeu por mais de 5 décadas, sempre empenhado em registrar as diversas faces da cultura tradicional brasileira: a religiosidade popular; a herança cultural e espiritual afro-brasileira; a literatura de cordel; os santeiros; a memória do cangaço; o artesanato; as formas de cantoria tradicional. As entradas custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Com curadoria de Ewerton Belico e Leonardo Amaral, a Retrospectiva Geraldo Sarno faz jus à importância histórica deste cineasta brasileiro cuja obra de impressionante consistência temática e notório engajamento político está há tempos longe dos olhos do grande público.
Geraldo Sarno (1938-2022) é conhecido também como integrante da Caravana Farkas, projeto coletivo de realização documental capitaneado entre o final dos anos 1960 e o começo dos anos 1970, pelo célebre fotógrafo Tomaz Farkas. Assim como outros diretores ligados à Caravana (como Sérgio Muniz ou Paulo Gil Soares), Sarno teve uma carreira longa e prolífica depois da Caravana, entre o documentário e a ficção, entre o cinema e a televisão.
Em Brasília, a retrospectiva contará com a apresentação curatorial (dia 23/05) e com dois bate-papos (dias 27/05 e 03/06 – ver programação), além do lançamento de um catálogo com grande acervo de escritos, fotografias e arquivos do próprio Sarno.
Muitos dos seus filmes foram pouco exibidos, o que torna a mostra mais contundente e necessária a fim de se estabelecer novos diálogos e novas análises sobre a obra do diretor e sobre o cinema brasileiro.
A filmografia de Geraldo Sarno comprova o enorme interesse do diretor pelas diversas faces da cultura brasileira: a religiosidade popular, a literatura de cordel, os santeiros, a memória do cangaço, o artesanato, as formas de cantoria tradicional. Sua obra transita por diversas frentes, nas variações entre um Brasil tradicional e um Brasil moderno.
Há em Geraldo Sarno um nítido interesse pela migração nordestina e pela herança sertaneja, que se espalha por inúmeros filmes, desde os migrantes abandonados na grande cidade, entregues à sua fé no clássico Viramundo (1965), ao político e empresário idealista encravado no meio do sertão pernambucano do longa de ficção Coronel Delmiro Gouveia (1977), passando pelo bumba-meu-boi de Dramática popular (1968); pela obra do escultor popular Mestre Vitalino, em Vitalino/Lampião (1969); as feiras populares nordestinas de Segunda-feira (1975).
Ainda em sua obra, existe ainda um fascínio pelas relações entre literatura, história e cinema, a exemplo de Semana de Arte Moderna (1972), O Picapau Amarelo (1973), adaptação da obra infanto-juvenil de Monteiro Lobato, de Casa Grande & Senzala (1978) e de Último Romance de Balzac; sobre o romance psicografado pelo médico e médium espírita, Waldo Vieira atribuído ao escritor francês Honoré de Balzac.
O encerramento da Mostra conta com o filme Sertânia, festejado pela crítica brasileira como um dos melhores de 2022, e que marca a retomada da experiência do cangaço e, talvez, seja a obra mais ousada de Sarno.
A retrospectiva Geraldo Sarno ainda apresenta um trabalho inédito realizado por Sarno, um dos episódios da série Sertão de Dentro, e cópias novas dos filmes Iaô e Plantar nas estrelas.
PROGRAMAÇÃO:
Terça 23/05
18h [Abertura] Brasil Verdade (130’, Geraldo Sarno, Paulo Gil Soares, Manuel Horácio Gimenez, Maurice Capovilla, 1968) | Livre
Com apresentação da curadoria por Leonardo Amaral
Quarta 24/05
19h Os Imaginários (9’, 1970)
Viramundo (38’, 1968)
Viva Cariri! (39’, 1969) | Livre
Quinta 25/05
19h O Côco de Macalé (12′, 1982)
Último Romance de Balzac (74’, 2010) | 12 anos
Sexta 26/05
17h Eu Carrego um Sertão Dentro de Mim (14′, 1980)
A Terra Queima (58’, 1984) | Livre
19h Coronel Delmiro Gouveia (90′, 1990) | Livre
Sábado 27/05
15h Mesa de Debate: Geraldo Sarno e a
experiência da Caravana Farkas | Livre
18h30 Sertânia
(97′, 2020) | 16 anos
Domingo 28/05
16h Casa Grande e Senzala (15’, 1978) | Livre
Deus é um fogo (80’, 87’) | Livre
18h30 Dramática Popular (28′, 1968)
Semana de Arte Moderna (58’, 1972) | Livre
Terça 30/05
18h Tudo Isto me Parece um Sonho (150′, 2008) | 14 anos
Quarta 31/05
19h Coronel Delmiro Gouveia (90’, 1992) | Livre
Quinta 01/06
19h Vitalino Lampião (9’, 1969)
Herança do Nordeste (82’, Geraldo
Sarno, Sérgio Muniz, Paulo Gil Soarres, 1972) | Livre
Sexta 02/06
16h15 Brasil Verdade (130’, Geraldo Sarno, Paulo Gil Soares, Manuel Horácio Gimenez,
Maurice Capovilla, 1968) | Livre
19h15 Sertão de Dentro (52′, 2023) | 10 anos
Sábado 03/06
16h Mesa de Debate:
Métodos de trabalho de Geraldo Sarno |Livre
19h Coronel Delmiro Gouveia (78′, 1990) |Livre
Domingo 04/06
17h Jornal do Sertão (15’, 1970)
O Engenho (10’, 1970)
A Cantoria (15’, 1970)
Segunda-Feira (11’, 1975)
Plantar nas Estrelas (17’, 1978) | Livre
19h Espaço Sagrado (17’, 1976)
Iaô (70’, 1976) | 16 anos
Terça 06/06
17h O Picapau Amarelo (82’, 1972) | Livre
Quarta 07/06
17h Eu Carrego um Sertão Dentro de Mim (14′, 1980)
A Terra Queima (58’, 1984) | Livre
19h O Côco de Macalé (12′, 1982)
Último Romance de Balzac (74’, 2010) | 12 anos
Quinta 08/06
16h30 Jornal do Sertão (15’, 1970)
O Engenho (10’, 1970)
A Cantoria (15’, 1970)
Segunda-Feira (11’, 1975)
Plantar nas Estrelas (17’, 1979) | Livre
18h20 Tudo Isto me Parece um Sonho (150′, 2008) | 14 anos
Sexta 09/06
16h45 Vitalino Lampião (9’, 1969)
Herança do Nordeste (82’, Geraldo
Sarno, Sérgio Muniz, Paulo Gil Soares, 1972) | Livre
19h15 Espaço Sagrado (17’, 1976)
Iaô (17’, 1976) | 16 anos
Sábado 10/06
16h Os Imaginários (70’, 1970)
Viramundo (38’, 1968)
Viva Cariri! (39’, 1969) | Livre
18h30 O Picapau Amarelo (82’, 1972) | Livre
Domingo 11/06
16h Dramática Popular (28′, 1968)
Semana de Arte Moderna (58’, 1972) | Livre
18h30 Casa Grande e Senzala
(15’, 1978) | Livre
Deus é um fogo (80’, 87’) | Livre
ATIVIDADES FORMATIVAS
Terça 23/05– 19h
Apresentação curatorial da mostra com Leonardo Amaral
Sábado 27/05 – 15h
Mesa de Debate / Geraldo Sarno e a experiência da Caravana Farkas
Palestrantes: Camila Dutervil (Documentarista e Antropóloga) e Edileuza Penha de Souza (Professora e Cineasta, UnB).
Mediação: Leonardo Amaral (curador) Livre [intérprete simultânea em LIBRAS]
Sábado 03/06 – 16h
Mesa de Debate / Métodos de Trabalho de Geraldo Sarno
Palestrantes: Rayssa Coelho (Pesquisadora e Produtora) e Dácia Ibiapina (Cineasta) Mediação: Ewerton Belico (curador) | Livre [intérprete simultânea em LIBRAS]
SINOPSES:
Viramundo
(Digital, p&b, 38 minutos, 1965)
Sinopse: A chegada de nordestinos à cidade de São Paulo ilustrada com depoimentos dos próprios migrantes e músicas com letras de José Carlos Capinan. A busca do trabalho é o grande tema apresentado, e a partir dele, é possível perceber percursos de vidas que se cruzam em uma nova cidade, onde desemprego, caridade e religião ocupam a ordem do dia.
Classificação indicativa: Livre
Filme completo ou trecho: https://www.thomazfarkas.com/filmes/viramundo/
Brasil Verdade
(Digital, p&b, 130 minutos, 1968)
Sinopses:
Compilação de 4 médias-metragens realizados entre 1964 e 1965 e lançados na forma de um longa de episódios em 1968, que veio a se tornar um dos clássicos do documentário brasileiro. A produção geral dos filmes foi de Thomas Farkas e todos eles tiveram músicas especialmente compostas por Gilberto Gil. Viramundo faz parte da complicação. Os outros são:
Memórias do cangaço
Com roteiro e direção de Paulo Gil Soares, trata sobre o Cangaço, movimento armado de bandoleiros que atuou no nordeste brasileiro na década de 1930, incluindo depoimentos de sobreviventes da luta (policiais e cangaceiros), análise do antropólogo Estácio de Lima e imagens originais de 1936, filmadas por Benjamim Abrahão, mascate que se infiltrou nas fileiras de Lampião.
Nossa escola de samba
Roteiro e direção de Manuel Horácio Gimenez, é um documentário social sobre o bairro carioca onde surge a Escola de Samba Unidos de Vila Isabel: o cotidiano do morro, as transformações que ocorrem todo ano quando se aproxima o Carnaval, os preparativos, os ensaios e finalmente o desfile na avenida.
Subterrâneos do futebol
Roteirizado em 1964 por Celso Brandão (texto), Clarice Herzog, João Batista de Andrade, Francisco Ramalho Jr. e dirigido por Maurice Capovilla, é exposto a paixão brasileira pelo futebol, o sonho de ascensão econômica dos jovens pobres que tentam ingressar na carreira de jogador e a válvula de escape das tensões sociais da maioria da população torcedora. Imagens de grandes jogos no Maracanã e no Pacaembu (nas quais aparecem o árbitro Armando Marques), com destaque para Pelé e o Santos, campeão paulista de 1964. Cenas com vários jogadores que participaram daquela campanha pelo clube santista: Pepe, Toninho Guerreiro, Lima, Coutinho, dentre outros.
Classificação indicativa: 12 anos
Filme completo ou trecho: https://www.thomazfarkas.com/filmes/memorias-do-cangaco/
Dramática popular
(Digital, p&b, 28 minutos, 1968)
Sinopse: O documentário aborda a literatura de cordel e manifestações como zabumba, dança do maribondo e o bumba-meu-boi, teatro de rua que trata da vida, da morte e da mitologia sertaneja.
Classificação indicativa: Livre
Trecho ou filme completo: https://assistabrasilctav.turismo.gov.br/play/10703
Viva Cariri!
(Digital, colorido, 39 minutos, 1969)
Sinopse: Os confrontos e conflitos entre a cidade dos romeiros do Padre Cícero e as tentativas de desenvolvimento da região.
Classificação indicativa: Livre
Trecho ou filme completo: https://vimeo.com/244397819
Vitalino/Lampião
(Digital, colorido, 9 minutos, 1969)
Sinopse: Dentre os artesãos do barro do Nordeste, o mais famoso, sem dúvida, foi Vitalino. A herança de sua arte se espalhou pela família. O filme se fixa na arte das mãos do mestre, através de seu filho, desde o instante em que pega o barro até quando o transforma numa imagem detalhada de Lampião, o rei do Cangaço, com todos os ícones de sua história.
Classificação Indicativa: Livre
Trecho ou filme completo: https://www.thomazfarkas.com/filmes/vitalino-lampiao/
Os Imaginários
(Digital, colorido, 9 minutos, 1970)
Sinopse: Os romeiros nordestinos têm o hábito de comprar imagens de personagens nos quais neles identificam um comportamento exemplar. Talhando a madeira para dar forma a essas figuras, os imaginários, artesãos que fazem imagens de personagens típicos do nordeste tradicional e perpetuam uma tradição que se modificou com o tempo. As formas do artista tradicional se adaptar às exigências do mercado de turismo e a dissociação entre sua consciência e o significado real da obra a que se dedica.
Classificação indicativa: Livre
Trecho ou filme completo: https://www.youtube.com/watch?v=hB4DLSW22Ic
O engenho
(Digital, p&b, 10 minutos, 1970)
Sinopse: O filme documenta a fabricação da rapadura – açúcar mascavo em forma de tijolos – em um engenho do Vale do Cariri no Ceará, com a plantação da cana-de-açúcar em rico solo de massapê, o atraso tecnológico da produção em relação ao litoral e o consumo final do produto no comércio local.