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FolhaPress

‘Diana: o Musical’, da Netflix, busca a paródia, mas é constrangedor

Gravado em palco da Broadway sem plateia, filme de dupla americano não dá liga

FOto: Reprodução

Os críticos londrinos se jogaram sobre este “Diana: O Musical” como paparazzi perseguindo a princesa. “Show kitsch da Broadway é um verdadeiro desastre”, escreveu Clive Davis no Times, sem conseguir distinguir “qual é a canção mais torturante”.

“Uma debacle tão ruim que você vai hiperventilar”, afirmou Peter Bradshaw no Guardian, descrevendo seus momentos de “colapso nervoso”. Jessie Thompson, do Evening Standard, destacou uma cena que a fez “pensar se havia tomado um ácido”.

Tanto incômodo físico de ingleses, com um musical americano que erra no sotaque, faz querer defendê-lo. Afinal, música, letras e roteiro são da dupla David Bryan-Joe DiPietro, a mesma do ótimo “Memphis”, entre outros musicais bem-sucedidos em Nova York.

Mas de fato não deu liga, desta vez. O espetáculo visto foi filmado sem plateia na Broadway, onde a produção chegou a fazer pré-estreias antes do fechamento dos teatros pela pandemia, e acaba de entrar no catálogo da Netflix.

Talvez pela proximidade permitida pelas câmeras, a inadequação das letras e da biografia apressada é evidente, desde a primeira cena. As caracterizações de Diana, Charles, Camilla Parker Bowles e da rainha parecem de animação para crianças, com a ingênua e os vilões.

A trajetória da princesa do Reino Unido, como percebida de longe pela dupla de artistas de Nova Jersey, não soa diferente daquela dos tabloides. Um reality-show de juízos apressados e populistas, que se reflete principalmente nas letras.

Os jornais londrinos se revoltaram com estes versos em especial, que a protatonista canta para o segundo filho, no berço: “Harry, my ginger-haired son / You’ll always be second to none” (Harry, meu filho de cabelos ruivos / Você nunca será segundo de ninguém”).

Mas a lista de sustos é longa, de rimas como “Feel the groove / Even royals need to move” (Sinta o ritmo / Até a realeza precisa se mexer”. Ou, de Charles para Diana, “Stop being a martyr / Why can’t you be smarter?” (Pare de ser mártir / Por que você não pode ser mais inteligente?).

A impressão é que DiPietro, dramaturgo e letrista provado, buscava algo próximo da paródia, ao menos inicialmente, e trombou com o fato de que a protagonista morre de forma trágica. Sem humor, quase tudo soa irreal ou néscio.

O resultado é um espetáculo constrangedor que remete inevitavelmente a “Primavera para Hitler”, o pseudo-musical encenado para ser constrangedor –e que vira um sucesso– dentro da comédia musical “Os Produtores”, de Mel Brooks.

“Diana: O Musical” não se permite ser engraçado e deve ter futuro bem diverso, quando estrear no palco no próximo dia 2, ainda que a plateia possa mudar muita coisa, na experiência de um espetáculo. No momento, até a Netflix parece estar tentando escondê-lo.

Diana: o musical
Onde: Disponível na Netflix
Classificação: 12 anos
Autor: Joe DiPietro, David Bryan
Elenco: Jeanna de Waal, Roe Hartrampf, Erin Davie
Produção: EUA, 2021
Direção: Christopher Ashley
Avaliação: Ruim

Por Nelson de Sá

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