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FolhaPress

Santos Dumont tem trajetória contada em série da HBO Max

Obra aborda a infância de Dumont em uma fazenda em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo

Foto: Divulgação

“Alberto Santos Dumont é um herói, um ícone, um gênio, um inventor, um pioneiro, enfim, um grande humanista”. É com esses predicados que João Pedro Zappa descreve o personagem real que ele interpreta na série “Santos Dumont”, que estreou este mês na HBO Max, quando se completou 115 anos do histórico voo do brasileiro com o 14 Bis, em Paris, na França, em 1906.

O ator de 33 anos, que atualmente está no ar como o Nélio de “Nos Tempos do Imperador”, se empolga ao falar do grande aviador brasileiro nascido no interior de Minas Gerais, mas admite que pouco se conhece sobre ele no país, além de suas invenções.

“Por mais que se saiba quem é Santos Dumont, que todo mundo saiba que ele inventou o avião, pelo menos aqui no Brasil né…”, faz uma pausa e continua: “Sua história pessoal é desconhecida. O que sabemos sobre a vida dele e como ele era é muito raro. Por isso foi uma super oportunidade de estudar essa personalidade única, muito a frente do seu tempo, de família abolicionista, que falava várias línguas e tinha um intelecto bem trabalhado”, afirma Zappa, em entrevista por telefone à Folha de S.Paulo.

O ator diz que foi o personagem mais complexo que ele já encarou. “Ele é muito enigmático e não há respostas certas sobre ele. Li todos os livros que ele escreveu, então foi bom para entender ele melhor.”

A série aborda a infância de Santos Dumont (1873-1932) em uma fazenda em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, onde sua família de posses trabalhava com café. Seu pai, Henrique Dumont, é considerado o primeiro rei do café do Brasil. E o futuro aviador já demonstrava inteligência para mecânica com locomotivas.

Em paralelo, a trama também foca na fase do grande inventor em Paris, onde o Petit Santos, como era conhecido por sua estatura baixa, decolou para a história ao ser o primeiro no mundo a voar com um “mais pesado que o ar” por meios próprios, denominado 14 Bis, além de suas contribuições para a navegação aérea com balões e os dirigíveis.

Zappa lembra que Santos Dumont foi a primeira celebridade internacional do Brasil. “Ele era tipo a Anitta hoje. Tudo que ele fazia ou vestia, virava moda”, diz Zappa.

O ator lembra algumas das invenções de Santos Dumont. “A porta de correr, que ele criou para os hangares de seus balões; o chuveiro com água quente e fria; o delivery, já que a casa que ele construiu em Petrópolis [RJ] não tinha cozinha e ele ligava para um hotel perto para pedir comida. Tudo que ele criava era pelo bem da humanidade.”
Zappa também reforça que “ninguém discute que ele criou os dirigíveis”. “Ele já estava nos ares muito antes dos irmãos Wright”, afirma o ator, em referência aos americanos, considerados no mundo como os pais da aviação.

O ator se empolga ao defender Santos Dumont como o pioneiro dos ares. “Eles [irmãos Wright] podem até ter voado primeiro, ninguém sabe, eu não vi, ninguém viu”, diz. E segue em seu raciocínio.

“Quem contribuiu mais para a navegação aérea? Foram os irmãos Wright, que fizeram tudo escondido de todo mundo só para conseguir uma parente e ficar rico? Ou foi Santos Dumont, na França, ao lado de franceses como Louis Blériot e Gabriel Voisin, que fizeram tudo à luz do dia, diante das comissões científicas?”, questiona.

Na trama, Santos Dumont se revolta e se deprime com o reconhecimento que os franceses deram aos americanos, que em 1908, finalmente, fizeram seu primeiro voo público, em Paris, e foram ovacionados.

“Quando os Wright voaram na França, os franceses ficaram impactados, porque a máquina deles teve um bom desenvolvimento aéreo. Mas eles não saíram do chão por esforço próprio, foram catapultados. Então eles já não ganhariam o prêmio que Santos Dumont ganhou [em novembro de 1906] na França”, diz o ator.

A série, ainda, mostra bem como Santos Dumont sofria certo preconceito por ser brasileiro, apesar de ter dupla nacionalidade. Os franceses queriam que um conterrâneo fosse o grande pioneiro dos ares.

“Santos Dumont era outro nível, era um aristocrata, um cara que veio de uma cultura vastíssima, um intelecto trabalhado, falava várias línguas, entendia de mecânica. Ele estava muito a frente dos europeus.”
Zappa destaca ainda que Santos Dumont era tão genial que o 14 Bis e o Demoiselle (modelo criado pelo aviador brasileiro que mais se assemelha aos aviões de hoje) queriam ganhar voo em suas mãos durante as gravações.

“Os aviões funcionavam! Taxeei tanto com o 14 Bis quanto com o Demoiselle. O 14 Bis já queria subir, é impressionante. Mas nas filmagens era perigoso eu voar e tive um dublê, o empresário, engenheiro e fã de Santos Dumont Alan Calassa, a quem as réplicas pertencem.

PARLER FRANÇAIS

A maior parte da série se passa na França, portanto, todos conversam na língua local. Mas Zappa admite que não dominava o idioma. “Decidimos fazer tudo em francês para ficar mais fiel e atrelada à história, mas eu não sabia falar francês.”

O ator conta que estudou intensamente no Brasil por cinco meses e, antes disso, ficou duas semanas em Cannes para o festival com o filme “Gabriel e a Montanha”, onde praticou o idioma.

“Antes de ir para a França no festival, eu fiz o teste para Santos Dumont. Então, estava mais ligado na língua porque tinha esse interesse. Em duas semanas, já fazia pedidos nos restaurantes e pedia informações na rua ou para comprar bilhete de trem.”

Ele conta que o ator belga Thierry Tremouroux, que de forma brilhante interpreta o mecânico Albert Chapin, o ajudava a corrigir seus deslizes na língua. “Às vezes eu dizia minha fala e quando o outro ator respondia, eu não entendia. E eu fiquei nervoso, porque queria entender tudo. E o Thierry também me ajudou muito com o sotaque”

Para finalizar, Zappa fala que Santos Dumont era um grande brasileiro, que pensava na humanidade acima do dinheiro ou ganância.

“Ele sempre foi muito rico, tanto que ele abria sua patentes ao público, abria suas patentes para a humanidade. Quando seus experimentos davam certo, eram publicados nos jornais no dia seguinte. Ao contrário dos irmãos Wright. E Santos Dumont nunca falou que voou primeiro, ele nunca teve essa vaidade.”

Por Tatiana Cavalcanti

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