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FolhaPress

‘Stranger Things’ enfim retorna para 4ª temporada mais sombria e sem crianças

Novos episódios do seriado chegam ao Netflix nesta sexta-feira (27)

Foto: Divulgação

Sadie Sink senta angustiada numa mesa de baile de formatura, olhando cabisbaixa para baixo, desatenta. Um barulho de disparo logo atrás chama a sua atenção e, assustada, ela sai correndo para fora da cena. “Corta!”, diz o diretor. Uma equipe de gente mascarada entra no enquadramento, sem as roupas de época de “Stranger Things”, higieniza e reorganiza o cenário. E tudo recomeça.

Foi assim, sob rígidos protocolos sanitários e com a imprensa acompanhando algumas das cenas virtualmente, que a quarta temporada da série da Netflix foi gravada, num processo marcado por adiamentos e que se estendeu por impressionantes 19 meses, de fevereiro de 2020 a setembro de 2021, por causa da Covid-19.

Os atrasos não impactaram só a equipe de “Stranger Things”, mas também seus fãs, que tiveram que esperar ansiosos três anos até que novos episódios finalmente chegassem ao serviço -o que acontece em duas levas, nesta sexta (27) e em 1º de julho.

Seus astros não escondem a passagem do tempo. Se antes víamos Millie Bobby Brown, Finn Wolfhard, Caleb McLaughlin e companhia como crianças, agora eles parecem um tanto desconectados do contexto escolar no qual a série se passa -os atores estão com 18, 19 e 20 anos, respectivamente.

Mas talvez a aparência mais velha não seja um grande problema para ninguém além do departamento de figurino, já que neste retorno, “Stranger Things” parece ter amadurecido de forma proporcional a seu elenco, com episódios mais macabros e violentos.

A mudança fica clara já no primeiro deles, que em seu momento mais climático eleva uma líder de torcida às alturas, revira seus olhos e contorce seus braços, pernas e mandíbula, até que eles se quebram e sangue começa a lavar sua face inocente e pueril.

“Nosso objetivo com essa série é tentar algo diferente a cada temporada e garantir que ela está evoluindo, o que tem acontecido de forma muito natural, porque nossas crianças estão crescendo. Nós nem podemos mais chamá-los de crianças, porque eles são jovens adultos agora”, disse Ross Duffer, 50% da dupla de irmãos que criou a série.

“Claro que haverá diversão nas aventuras que trazemos nesta temporada, mas no geral o tom está muito mais sombrio”, completou Matt Duffer, a outra metade, enquanto apresentava o set de filmagem à imprensa, virtualmente, em junho passado.

Na quarta temporada, “Stranger Things” sai do porão de Joyce Byers e da provinciana Hawkins e se expande para a moderninha Califórnia e a gélida Sibéria –aqui, as figuras e peças dos tabuleiros de RPG dão espaço para enormes torres de vigilância e longas ferrovias que mantêm o policial Hopper recluso e isolado.

Para refrescar a memória dos fãs da série, que certamente se esqueceram de muito do que aconteceu na última temporada, é importante dizer que Eleven, a protagonista de Millie Bobby Brown, perdeu seus poderes e que Hopper aparentemente se desintegrou enquanto fechava um portal para o Mundo Invertido.

Para lidar com o trauma, Joyce, seu filho Will e a adolescente Eleven se mudam para a Costa Oeste -mas Hopper não está morto, como descobrimos pelo trailer da quarta temporada. Ele, na verdade, foi preso pelos soviéticos, reforçando o contexto de Guerra Fria no qual a série se passa.

“Stranger Things”, portanto, dividiu seus personagens em três locais nesses novos episódios. Hawkins, no entanto, continua sendo o centro da ação, com uma nova ameaça sobrenatural fazendo vítimas escolares e reforçando seu recém-conquistado status de cidade mal assombrada.

Entre as principais influências oitentistas da quarta temporada, tanto para o roteiro quanto para o visual, estão “A Hora do Pesadelo”, “E.T.: O Extraterrestre”, “Amanhecer Violento”, “Os Garotos Perdidos”, “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” e “O Garoto do Futuro”.

Uma verdadeira colcha de retalhos referencial, ela ilustra bem quão eclética e caótica ficou a trama, capaz de absorver influências que vão de alienígenas, vampiros e lobisomens a rebeldia adolescente, panelinhas escolares e medo de comunistas.

“Nós vimos os garotos lidando com a escola em todas as temporadas, enquanto a Eleven sempre ficava numa cabana escondida ou saía numa jornada de autodescoberta. Agora nós finalmente a vemos lidando com questões comuns a qualquer garota adolescente, tentando se encaixar no colégio”, diz Bobby Brown por vídeo.

Ao lado de Wolfhard, ela lamenta que, para poder entrar nessa jornada mais “normal” da protagonista, precisou, no entanto, se distanciar dos colegas de elenco. Enquanto a turma formada por Mike, Dustin, Lucas e Max vivia seus dilemas em Hawkins -construída num set em Atlanta, na Geórgia-, Eleven e Will passavam por situações semelhantes, mas na Califórnia.

“Eu criei relações genuinamente intensas com o elenco de ‘Stranger Things’. Esses garotos se tornaram irmãos para mim. Só que, desde que a primeira temporada se tornou um sucesso, todos conseguiram emplacar projetos grandes, então ficou difícil juntar todos numa sala. Quem consegue fazer isso é a Netflix, mas com essa temporada foi tudo diferente.”

De 2016, quando a série estreou, para cá, Bobby Brown foi indicada a dois Emmys, trabalhou em blockbusters hollywoodianos e fundou a própria produtora, a PCMA Productions, que lançou uma franquia de filmes da qual ela é o rosto, “Enola Holmes”. Mas “Stranger Things” sempre ocupará um lugar especial em seu coração, diz, por tê-la impulsionado e acompanhado não apenas sua carreira, mas também sua vida pessoal.

“A Eleven se tornou uma personagem que vem naturalmente para mim. Eu raspei meu cabelo para interpretá-la quando tinha dez anos e agora eu tenho 17 e continuo dando vida a ela”, afirma -a entrevista foi feita antes de ela alcançar a maioridade. “Tente dar seu primeiro beijo na Netflix, é surreal, uma loucura. Mas também é a experiência da minha vida, e eu acho que só vou ter dimensão do que ‘Stranger Things’ realmente significa quando tudo estiver acabado e eu estiver com uns 30 anos.”

O término já tem uma data esperada para acontecer, pois os irmãos Duffer anunciaram que a quinta temporada será também a sua última. As crianças cresceram e, como aconteceu em “Harry Potter”, já não cabem mais nos uniformes de escola. Até o final deste quarto ano de “Stranger Things”, a dupla avisa, todos devem se reencontrar, no que deve ser o início de sua despedida.

Por Leonardo Sanchez

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