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Desenrola pode elevar concessão de crédito e reduzir inadimplência, dizem bancos

Os analistas da XP dizem que veem com bons olhos o Desenrola

O programa Desenrola lançado nesta semana pelo governo federal deve favorecer um aumento na concessão dos empréstimos pelos bancos, e, ao mesmo tempo, reduzir o nível de inadimplência nas carteiras.

Os analistas da XP dizem que veem com bons olhos o Desenrola. Na faixa 1, que deve ser lançada em setembro e que vai englobar dívidas bancárias e não bancárias, o benefício é o fato de os valores renegociados contarem com a garantia do FGO (Fundo Garantidor de Operações).

Já para a faixa 2, o diferencial será a possibilidade de constituição de crédito tributário no mesmo montante das renegociações. “Os créditos tributários usualmente são redutores do patrimônio de referência. No entanto, de forma a incentivar o Desenrola, o governo conseguiu que os créditos tributários oriundos do programa não sejam redutores do patrimônio, liberando capital dos bancos”, assinalam os analistas da XP em relatório.

Analista de risco de instituições financeiras da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu explica que, quando um cliente deixa de pagar uma obrigação e se torna inadimplente, os bancos são obrigados a fazer uma provisão que não é automaticamente dedutível do IR (Imposto de Renda).

“Os bancos pagam imposto sobre essa provisão e, somente depois que comprovarem que não conseguiram recuperar o crédito, o valor da provisão, que é considerado um crédito tributário, é abatido da base do cálculo do imposto”, processo que demora alguns trimestres até ser concluído, diz Santacreu. A provisão, portanto, tem um peso negativo em termos de alocação eficiente de capital, acrescenta o analista.

Pelos moldes do Desenrola, os valores renegociados na faixa 2 serão liberados imediatamente para serem abatidos do imposto, o que vai se refletir em um aumento da capacidade de realizar novos empréstimos pela instituição financeira, afirma Santacreu.

Sócio e gerente educacional da Órama Investimentos, Gilvan Bueno acrescenta que o programa traz um ganho de eficiência operacional para os bancos.

A provisão para devedores duvidosos (PDD) tende a ser reduzida, dando fôlego para as instituições abrirem novas linhas de crédito em um momento no qual a taxa de juros ainda encontra-se em patamar elevado.

“Os bancos vão acabar tendo espaço para emprestar dinheiro a uma Selic ainda alta para uma população menos endividada”, diz Bueno. Pelos cálculos do Bofa (Bank of America), o programa deve “melhorar significativamente a inadimplência dos bancos.”

De acordo com as estimativas do BofA, se os bancos renegociarem R$ 50 bilhões no âmbito do Desenrola, a inadimplência combinada dos cinco maiores bancos diminuirá de 3,2% para 1,6%.

“As principais dívidas que devem fazer parte do programa são linhas de crédito pessoal e de cartão de crédito, que apresentaram uma taxa de inadimplência muito elevada pós-pandemia”, diz Guilherme Machado, analista de instituições financeiras da agência de classificação de risco Standard & Poor´s.

Ele acrescenta que a escolha em renegociar os créditos em atraso será uma decisão financeira na qual as entidades devem decidir se o valor renegociado no programa será maior do que a expectativa de recuperação tradicional de uma carteira inadimplente.

Analista da Senso Investimentos, João Augusto Frota afirma que as dívidas consideradas no Desenrola são aquelas que a chance de serem quitadas já eram muito baixas.

Nesse sentido, é mais interessante ter algum valor renegociado que poderá ser abatido do IR de imediato do que seguir na tentativa de fazer a recuperação ou mesmo reconhecer a dívida como prejuízo, diz Frota. “É melhor um pássaro na mão do que dois voando.”

O analista da Senso assinala ainda que, no caso daquelas instituições financeiras que derem um desconto relevante para as pessoas que estão negativadas, o Tesouro Nacional vai assumir a inadimplência dessa nova dívida renegociada.

“Os próprios bancos vão poder decidir em quais carteiras e com quais clientes querem fazer isso. Nesse sentido, não enxergo risco elevado na operação. Todo mundo sai ganhando, os bancos e os inadimplentes. Quem paga a conta é o Tesouro.”

Frota afirma que as varejistas que trabalham diretamente com a parte da população de renda mais baixa devem ser as mais beneficiadas, como Carrefour, GPA, Lojas Renner, Magazine Luiza e Via.

Por Lucas Bombana 

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