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FolhaPress

Investimento estratégico permite proteção até as eleições de 2022

Crises obrigam o investidor a se preparar

Bolsonaro sanciona lei que protege consumidores de superendividamento
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

“Se você quer paz, se prepare para a guerra”, aconselhou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em declaração que pode ser interpretada como um recado para agitar sua base eleitoral com vistas ao pleito de 2022.

Seja qual for a intenção do mandatário, no campo das finanças a escaramuça já está instalada: inflação e desemprego em alta, atividade econômica retraída e um mercado descrente na capacidade do governo em administrar crises obrigam o investidor a, de fato, se preparar para que o seu dinheiro não esteja entre as baixas em outubro do ano que vem.

Preparar-se, nesse contexto, significa distribuir o capital em diferentes aplicações que, em conjunto, sejam capazes de evitar a perda do poder de compra e ainda buscar algum rendimento acima da inflação.

“Em um cenário de difícil análise como é o do Brasil, aquela história de não colocar todos os ovos numa única cesta é ainda mais importante”, diz o economista Douglas Duek, CEO da Quist Investimentos.

Duek sugere a formação de uma carteira dividida em cinco grupos de aplicações proporcionais, mas considerando concentrar uma parte relativamente maior em títulos de renda fixa e de fácil liquidez, principalmente no caso de investidores com incertezas pessoais no horizonte, como instabilidade no emprego ou perspectivas de aumento nos gastos por questões pessoais ou familiares.

Entre as opções de renda fixa, o CDB (Certificado de Depósito Bancário) pós-fixado funciona como um porto seguro neste momento, pois oferece possibilidade de liquidez diária e proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) para aplicações de até R$ 250 mil, com rendimento igual ou superior ao da taxa do CDI (Certificado de Depósitos Interbancários), que tem como referência os juros.

Em um contexto de inflação em alta, apostas conservadoras atreladas à elevação da Selic (taxa básica de juros) tendem a trazer alguma proteção ao dinheiro.

Ainda considerando que a alta no custo de vida pode persistir, sobretudo devido aos efeitos da crise hídrica, outra parte da carteira pode ser depositada em títulos atrelados à inflação. O Tesouro IPCA, que acompanha o índice inflacionário oficial do país, é a opção mais conservadora.

Com parte do capital já aplicado em investimentos conservadores, é possível arriscar uma parte na Bolsa de Valores. “O que eu recomendo são ações de empresas relativamente protegidas da crise”, diz Duek.

Fundos de ações que contam com empresas sólidas e em áreas essenciais estão entre as recomendações consideradas relativamente seguras pelo especialista.

As duas cestas que restam podem ser destinadas a fundos imobiliários, apostando na elevação do preço dos imóveis devido à escassez de insumos, e a ativos no exterior, que apesar de momentaneamente caros devido ao preço do dólar, podem proteger parte do capital das oscilações cambiais.

No caso da aplicação no mercado externo, desde o ano passado o acesso é facilitado ao investidor comum pelos BDRs, sigla para Brazilian Depositary Receipts, que são recibos emitidos por instituições financeiras brasileiras com rendimento vinculado ao de ações de empresas estrangeiras.

Com o dólar ameaçando permanecer em alta, assim como ocorre com os fundos cambiais, o investimento em BDR funciona como uma proteção à flutuação da moeda americana.

Apostar parte da renda em empresas estrangeiras não significa estar imune às oscilações do mercado, explica Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos. “Não se deve confundir volatilidade com insegurança”, diz.

“Há empresas no exterior com muito valor e com muita volatilidade”, diz. “Mas apesar de balançar, elas não são inseguras”, comenta Oliveira.

Uma alternativa para diluir as aplicações no exterior são os BDRs de ETF, sigla em inglês para Exchange Traded Funds, que é basicamente um fundo de investimento.

Nesse caso, a opção não será por recibos vinculados a ações de empresas estrangeiras específicas, mas por índices acionários no exterior.
“Pensando em um investidor pouco experiente, e estamos falando de um produto ainda recente, eu prefiro os ETFs”, recomenda Oliveira. “Para pessoas com pouco conhecimento do mercado, a aposta em empresas específicas ou que estão na moda costuma ser um problema.”

RENDA FIXA DEVE APOSTAR NO ESTRESSE DO MERCADO
Associado à segurança e estabilidade, o investimento em renda fixa requer uma estratégia para tirar vantagem do estresse do mercado até as eleições de 2022, segundo Guilherme Ammirabile, assessor da iHUB Investimentos.
Em um momento em que as previsões são de aumento da Selic para controle da inflação, os títulos pós-fixados tendem a aproveitar a curva ascendente dos juros dos próximos meses.
“Mesmo que existam produtos que já estão com taxas pré-fixadas altas, na casa de 10% ao ano, há uma tendência de que o mercado irá se estressar ainda mais até a eleição”, diz Ammirabile.
A aposta deverá ser reavaliada com base no cenário político e econômico no período próximo às eleições de 2022, aconselha o especialista.
“Dependendo de quem for o candidato à frente nas pesquisas e da reação do mercado, essa curva de juros poderá começar a cair”, diz. “Poderá ser a hora de mudar para títulos pré-fixados para prolongar os ganhos quando essa curva começar a cair.”
Beabá do investimento em tempos de crise Perfil
Aplicações na Bolsa estão sujeitas a oscilações. Caso o investidor tenha dificuldade para lidar com isso, o ideal é iniciar aplicando uma parte menor do capital disponível.

OBJETIVOS
Ter clareza sobre como o dinheiro será usado ajuda a definir o tipo de aplicação e o prazo do investimento
Prioridade
Após pagar as contas básicas do mês, o investimento tem que ocupar o segundo lugar na fila de prioridades. O lazer fica por último.

MOMENTO DA ECONOMIA
A aposta em juros pós-fixados tende a ser mais vantajosa em períodos de inflação acelerada, como o atual.

AÇÕES
Aplicar em ações requer mais conhecimento sobre a situação econômica das corporações. Fundos compostos por papéis de empresas tradicionais trazem maior segurança em momentos instáveis.

DIVERSIFICAÇÃO
Mesclar opções de renda fixa e variável e em diferentes ativos, inclusive no exterior, permite que perdas em alguns segmentos sejam compensadas por ganhos em outros.

PROTEÇÃO
Em tempos de incerteza, o objetivo prioritário do investimento é a proteção do patrimônio e manutenção do poder de compra. Aplicações concentradas, mesmo que tenham rendimento momentaneamente elevado, podem acarretar prejuízo.

Texto: Clayton Castelani

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