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FolhaPress

Alok remixa música que viralizou no TikTok e diz não temer se posicionar

Foram 46 milhões de execuções no Spotify, 102 milhões no YouTube

Foto: Divulgação

Talvez você não saiba cantar nada além do refrão “raparaparapá raparaparapá”, mas se entrou no TikTok no último ano é provável que tenha se deparado com a música “Hadal Ahbek” em algum momento. Só na rede social chinesa, ela soma mais de 3 bilhões de visualizações, o que a levou a ganhar força também em outras plataformas.

Foram 46 milhões de execuções no Spotify, 102 milhões no YouTube (13 milhões no vídeo oficial e 89 milhões na performance ao vivo), além de ter se tornado a primeira música árabe a alcançar o topo da parada Global Viral 50 e no ranking viral de 25 países.

Os números de gente grande pertencem ao jordaniano Issam Alnajjar, 18, que acaba de lançar uma terceira versão da música –além da original, já havia uma em inglês com Loud Luxury e Ali Gatie. Desta vez, a canção ganha um toque latino com vocais da mexicana Danna Paola, 26, e remix do brasileiro Alok, 30. O título virou “Si Tú Vuelas” (se você voa, em espanhol).

Ao site F5, o DJ contou que partiu dele a ideia de revisitar a música. “Eu descobri a música porque uma música minha estava em primeiro lugar no top 10, de repente a música do Issam apareceu em primeiro lugar no Brasil e eu não sabia do que se tratava”, lembra.

“Fui ouvir e pesquisar”, conta. “Quando eu comecei a compartilhar com alguns amigos, eles já conheciam. Aí, eu liguei para a minha gravadora e falei que tínhamos que encontrar esse garoto para fazer um remix.”

Issam contou que recebeu o convite para a colaboração com surpresa. “Eles me mandaram a primeira demo [versão não finalizada] e eu pirei quando soube que o Alok que ia produzir. Depois quisemos trazer uma voz feminina latina e chamamos a Danna Paola, que é uma pop star. Foi uma honra para mim, para ser franco.”

Aliás, tanto Issam quanto Alok conheciam Danna pelo papel de Lucrecia de “Elite”, da Netflix. Porém, ambos dizem que ela é bem mais acolhedora que a colegial endinheirada da série. “Quando gravamos o clipe, ela foi bem extrovertida e amigável”, garante o jordaniano. “Foi fácil trabalhar com ela, tivemos uma boa química e foi tudo muito suave.”

Os músicos dizem que não houve problemas de comunicação, mesmo com tantas nacionalidades diferentes envolvidas no trabalho. O idioma em comum era o inglês –e, claro, a própria batida musical.

“Eu percebi que a música ia funcionar porque coloquei para tocar no carro e meu filho [Ravi, de 1 ano] começou a pirar”, conta Alok. “Música não tem língua”, concorda Issam. “Uma música árabe estar atravessando o mundo prova isso.”

E, por falar nisso, sobre o que é “Hadal Ahbek”, que até hoje muita gente canta sem saber? “É sobre eu estar dizendo para uma garota que a amarei para sempre e que estarei sempre do lado dela, mesmo que tudo esteja contra a gente”, explica Issam.

Ele avalia que o que transformou a canção em um hit global foi a melodia simples e cativante. “Ela fica impregnada na cabeça”, ri o músico.

O jordaniano, que ainda não esteve no Brasil, diz que o país é um de seus destinos dos sonhos. Com a situação da pandemia razoavelmente controlada em seu país, ele está ansioso para fazer sua primeira performance ao vivo em muito tempo, na próxima sexta-feira (8).

Alok teve esse gostinho recentemente. No mês passado, ele se apresentou em um festival na Romênia e passou pela Sérvia. “Isso me deu esperança de novo”, conta. “Quando a pandemia começou, todo mundo achou que seriam duas semanas, depois dois meses, e já estamos há quase dois anos.”

“Por aqui não sabemos ainda como vai ser, se vai ter Carnaval, mas lá eles estão bem adiantados na vacinação”, conta. “Até na academia eles não exigem mais máscara. Eu usei porque ainda estou com a mente no Brasil, andava de máscara na rua e todo mundo me olhava. Mas, tudo bem, prefiro estar seguro.”

Essa também foi a primeira vez que Alok se separou por mais tempo dos filhos –além de Ravi, ele e Romana Novais, 30, são pais de Raika, de 10 meses. “Eles são a minha prioridade hoje em dia”, garante o DJ, que lamenta ter ficado quase 20 dias sem vê-los.

“Hoje fui levar meu filho na escolinha e pude ficar um pouco com a minha filha, foi por isso que me atrasei para a entrevista”, diz. “Eu percebi que não quero voltar à vida que eu tinha antes, quero ter uma vida com mais equilíbrio por causa deles.”

Alok também está cada vez mais consciente de seu papel na sociedade. Em agosto, ele foi visto em Brasília apoiando uma manifestação contra o Marco Temporal, que altera a demarcação de terras indígenas. A tese seria julgada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas a votação foi suspensa sem prazo para retomada.

“Estava lá mais como pessoa e menos como artista”, avalia. “Estou fazendo um trabalho –o mais importante da minha vida– de registrar a música e os cantos da cultura indígena. Se eles estão pedindo ajuda, tenho que estar lá ao lado deles, senão não faz sentido.”

Em meio à polarização política do país (e das redes sociais), o músico diz não temer se posicionar. “Já me perguntaram se eu não tinha medo de perder fãs, porque é um tema polêmico, mas sou muito ligado a essa causa”, afirma. “Se alguém quiser deixar de me seguir por causa disso, não tem nada que eu possa fazer.”

O DJ explica que tem uma ligação muito pessoal com a causa. “Há sete anos, eu tive depressão, estava procurando inspiração e fui a uma aldeia”, conta. “Foi onde minha cura começou. Essa viagem mudou toda a minha perspectiva de vida, quero que minha música faça as pessoas se sentirem curadas.”

Já Issam diz que também tem vontade de que sua música atinja as pessoas para além da superfície. “Quero fazer as pessoas se sentirem melhor enquanto ouvem o meu som”, diz. “A música já me ajudou a superar muitas coisas, então quero muito ajudar outras pessoas por meio da música.”

Por Vitor Moreno

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