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FolhaPress

J.K. Rowling escreve cativante fábula de Natal

Escritora constrói uma galeria de personagens e situações que lembram uma mistura de Toy Story

Foto: Reprodução

Para onde vai tudo que perdemos e nunca encontramos? Este é o questionamento que guia a criação de “Jack e o Porquinho de Natal”, o novo livro infantil de J.K. Rowling, lançado neste Dia das Crianças.

O romance acompanha Jack, um garoto de sete anos que perde O Poto, seu porquinho de pelúcia, durante uma briga com a meia-irmã, que atira o brinquedo na estrada pelo vidro do carro.

Jack ganha de Natal outro porquinho, mas não o aceita. É então que, como num passe de mágica, o substituto, cansado de ser rejeitado, ganha vida e decide levar o garoto à Terra das Coisas Perdidas, de onde poderá resgatar O Poto.

Na obra, Rowling constrói uma galeria de personagens e situações que lembram uma mistura de “Toy Story” com “Divertida Mente”, da Pixar, mas sem deixar de ser original. A autora, afinal, já mostrou em “Harry Potter” que criatividade não falta a ela.

Impressiona a maneira como Rowling consegue transformar uma vasta quantidade de objetos inanimados em personagens com múltiplas camadas, construídos a partir de histórias de vida, motivações e linguajares próprios.

É cativante para uma criança, e engraçado para os seus pais, ler sobre Poema, uma folha de papel que só conversa por meio de versos e rimas, ou ver Genda, uma agenda telefônica que fez excursões pelo reino para se sentir mais importante do que é só porque tem muitos contatos.

É nessa mesma riqueza criativa, porém, que Rowling se perde. Cada detalhe é descrito à exaustão, de modo que não há lacunas para que o leitor possa preencher e criar interpretações visuais próprias.

O exagero de descrições ainda prejudica o livro por deixar a obra longa demais. A extensão, em si, não deveria ser um critério para dizer o que serve ou não como leitura infantil. Basta lembrar que tamanho foi a principal justificativa usada pelos dez editores que recusaram “Harry Potter”.

Mas “Jack e o Porquinho de Natal” não é “Harry Potter”. É um livro indicado para crianças a partir de oito anos, que, preferencialmente, diz Rowling, deve ser lido em voz alta pelos pais à beira da cama.

Se os pais lerem, digamos, dois capítulos por noite, atravessar o livro levará cerca de um mês, o que, numa obra de capítulos curtos, que terminam com ganchos, pode tirar força da narrativa.

A estrutura do livro segue a convenção do conto moral natalino, gênero consagrado por Charles Dickens, de quem Rowling é fã, em “A Christmas Carol”. Nos contos morais -sejam natalinos, fábulas ou apólogos-, os personagens aprendem uma lição ao fim da história e, em alguns casos, como no de Dickens, passam por uma transformação.

Jack até aprende sua lição -sem revelar o enredo, dá para dizer que ela gira em torno da importância do amor, algo comum à obra de Rowling. Mas ela não é tão forte quanto poderia, deixando a impressão de que, se houvesse uma edição mais cuidadosa, o livro poderia se sair bem melhor -a ideia, afinal, é boa.

Ainda assim, “Jack e o Porquinho de Natal” não deixa de ser divertido e espirituoso, perpassando discussões sobre valores e princípios que os pais certamente gostarão de ter com seus filhos enquanto acompanham a leitura.

JACK E O PORQUINHO DE NATAL

Avaliação: Bom
Autora: J.K. Rowling. Trad.: Ryta Vinagre. Ed.: Rocco. R$ 59,90 (320 págs.)

Por Pedro Martins

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