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“Meu microfone é uma arma para informar e educar”, afirma cantora Iza

Aos 30 anos, a cantora afirma que seria hipocrisia não utilizar o espaço que conquistou para se posicionar sobre questões políticas e sociais

Iza disse há cerca de três anos, na música “Dona de Mim”, que agora ia falar. E tem falado mesmo. Com letras fortes, ela tem abordado questões sociais e a vida na periferia, e diz que a arte sempre deve estar conectada ao senso de justiça e desejo de mudança social.

Aos 30 anos, a cantora de Olaria, na zona norte do Rio de Janeiro, afirma que seria hipocrisia não utilizar o espaço que conquistou para se posicionar sobre questões políticas e sociais. Por isso, ela considera o microfone que usa para cantar sua arma mais poderosa.

“A música, para mim, não é só para realizar meus sonhos e pagar minhas contas. Meu microfone é uma arma poderosa para informar e educar”, afirma. “Minha existência como mulher negra, da periferia, foi exatamente o que me fez entrar na indústria, porque eu queria me ver nos lugares, queria mudar o cenário.”

No caso de Iza não foi o sucesso ou o dinheiro que lhe deram consciência do seu lugar, mas sim sua mãe. Segundo cantora, ela sempre disse “que meu lugar era onde eu quisesse estar e eu quero que todas as meninas negras periféricas entendam isso também”, afirma.

“Falo de racismo porque é necessário”, continua ela em entrevista à Folha de S.Paulo. “Falo de racismo porque é injusto, porque pessoas morrem por isso. Seria hipócrita da minha parte viver tudo o que eu vivi e não falar sobre isso, não usar meu espaço para discutir esses temas.”

E esses temas, abordados no primeiro álbum da cantora, “Dona de Mim”, se repetirão em seu próximo trabalho, que deve ser lançado ainda neste ano. Não à toa, o primeiro single, lançado em junho deste ano, se chama “Gueto”. No clipe, os fãs podem ver referências ao bairro em que cresceu e até à mãe da cantora.

O novo trabalho marca o fim de um hiato provocado pela pandemia, que ainda mantém Iza e grande parte dos artistas sem shows. Para a cantora, que perdeu parentes próximos para a Covid, o momento ainda não é de comemoração, mas é preciso ter gratidão por aquilo que está dando certo.

“Me sinto grata pela vida, não só por ter comida e água em casa, sem ver minha família passar necessidade, o que já é suficiente para agradecer, mas também por tudo o que conquistei e que não imaginava conquistar tão rápido”, diz. E para ela, “Gueto” expressa justamente este sentimento.

Em meio à comemoração, não poderia faltar dança, e “Gueto” também traz isso, o que o tornou um sucesso também no TikTok. “Eu tenho os talismãs [como ela chama os fãs] mais talentosos do mundo e a cada clipe com coreografia que lanço, me surpreendo com as versões que eles me mandam”, diz.

“‘Gueto’ veio para agradecer de onde eu vim e onde cheguei. Quero que isso chegue a todos, que todos possam se orgulhar de onde vêm. Meu desejo agora é ver todo mundo vacinado, podendo voltar a trabalhar, podendo colocar comida na mesa e ir à luta”, diz Iza.

Por Anahi Martinho

 

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