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FolhaPress

Conheça Raven Saunders, atleta LGBTQIA+ que protestou em um pódio das Olimpíadas

Negra e homossexual, a atleta dos Estados Unidos atravessou o auge de uma crise de saúde mental em janeiro de 2018, quando afirma ter pensando em se matar

Raven Saunders
Getty Images

Raven Saunders, 25, talvez não tivesse subido no pódio nesse domingo (1/8) em Tóquio para receber sua primeira medalha olímpica no arremesso do peso, uma prata, se sua psicóloga não tivesse visto em tempo uma mensagem no celular há três anos e meio.

Negra e homossexual, a atleta dos Estados Unidos atravessou o auge de uma crise de saúde mental em janeiro de 2018, quando afirma ter pensando em se matar.

Parecia uma manhã como outra qualquer. Raven pegou o carro e saiu para suas tarefas de rotina, em Oxford, Mississippi. Ela, no entanto, não parou em nenhum dos locais que deveria visitar. Segundo relatou em entrevistas, era como se fosse ver aqueles lugares pela última vez.
Estava pronta para jogar seu carro em um barranco quando sentiu algo e decidiu escrever uma mensagem a uma psicóloga de extrema confiança, mas com a qual não falava havia oito meses.

Colocou na cabeça que, se não tivesse resposta até chegar ao próximo ponto de seu (fracassado) itinerário, um supermercado Walmart, ela tentaria o suicídio.

A terapeuta respondeu quase que imediatamente a mensagem que serviu à medalhista olímpica como um puxão de volta para a vida.
Em cima do pódio, neste domingo, Raven protestou. Hulk -apelido que adotou desde a adolescência- ergueu os braços e os cruzou sobre a cabeça em formato de X. Na entrevista após a conquista da medalha de prata, disse que o gesto significa “o cruzamento onde todas as pessoas oprimidas se encontram.”

Os problemas da atleta começaram em 2017, quando teve diversas lesões e dificuldades para manter a forma física. Na época, ela dividia a vida entre os estudos e as competições, o que a deixava mais pressionada.

Após o episódio do carro, Raven foi diagnosticada com depressão, ansiedade e síndrome de estresse pós-traumático. Diante desse quadro, decidiu deixar a universidade e quase não competiu em 2018 e 2019.

“Eu senti que estava perdendo a cabeça. Estava a 10 ou 15 minutos de tentar acabar com a minha vida”, contou à revista Time.
Quando largou os estudos, foi recomeçar a vida em San Diego, na Califórnia. Lá, a atleta deu início a uma super dieta e passou a cuidar da saúde mental com ajuda de familiares e técnicos.

“Eu faço muita meditação e coisas desse tipo. Estou perto de pessoas positivas. Com meus amigos mais próximos, tenho tentado falar mais sobre o que estou passando, pedindo a eles para sempre olharem como estou e tentando ser mais aberta para falar sobre o que estou passando”, disse em janeiro de 2020.

O apelido Hulk vem da época escolar e ficou para sempre. “É uma mistura de foco com raiva e agressividade e poder. E eu sinto que isso tudo é exatamente o que o arremesso do peso é. Quando eu viro o Hulk, ele assume o controle”, afirmou em entrevista.

Além do protesto, Raven levou ao pódio temas centrais dessas Olimpíadas, como saúde mental e diversidade. Antes de fazer o X com os braços, competiu usando uma máscara de proteção contra Covid-19 que tinha um sorriso do Coringa desenhado. O filme tem a questão psicológica do personagem como assunto importante no desenvolvimento da trama.

Depois da prova, a medalhista disse, ainda, que gostaria de dar visibilidade a “pessoas de todo o mundo que estão lutando e não têm plataforma para falar por si mesmas”.

“Um salve para meu povo negro. Um salve para toda a minha comunidade LGBTQ. Um salve para todo o meu povo que lida com saúde mental”, completou.

Antes do início das Olimpíadas, o COI (Comitê Olímpico Internacional) avisou que passaria a permitir protestos dos atletas durante os Jogos de Tóquio, mas não nas cerimônias de pódio.

A atleta realizou o gesto após o protocolo de recebimento das medalhas e execução do hino, quando posava para os fotógrafos.

Por enquanto, oficialmente, a entidade afirmou que a punição teria de ser aplicada pelo comitê dos EUA, que já rejeitou a possibilidade. O COI afirmou nesta segunda-feira (2) que segue em conversas para tomar uma decisão.

A prova foi vencida pela chinesa Gong Lijiao. A neozelandesa Valerie Adams levou o bronze.

Depois de conquistar o quinto lugar na Rio-2016, Raven ganhou uma homenagem da sua cidade natal, Charleston, na Carolina do Sul. O prefeito organizou um desfile no centro da cidade para recebê-la. Com a medalha de prata, a festa deverá ser em dobro.

Por: CAMILA MATTOSO

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