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FolhaPress

Presidente do Corinthians diz que é mais fácil acabar com a fome do que quitar dívida do clube

A declaração do presidente alvinegro, que assumiu o Sport Club Corinthians Paulista em janeiro deste ano, foi dada na quinta-feira (4)

Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

O presidente do Corinthians, Augusto Melo, afirmou que é mais fácil ajudar a acabar com a fome no país do que quitar a dívida do clube.

De acordo com ele, contra a fome é possível juntar forças, unir poder público, iniciativa privada e terceiro setor para reduzir o impacto desse mal que aflige 33 milhões de pessoas no país.

“A fome é um problema social, então depende da sociedade, do governo, de nós todos lutarmos contra ela. Então podemos juntar forças, como aqui o Corinthians e a Gerando Falcões e o Edu Lyra. Agora a dívida do Corinthians somos nós aqui, no clube, que teremos que lidar com ela e trabalhar muito. E não é fácil.”

A declaração do presidente alvinegro, que assumiu o Sport Club Corinthians Paulista em janeiro deste ano, foi dada na quinta-feira (4), quando o clube firmou parceria com a ONG Gerando Falcões.

O clube diz não ser possível hoje definir o valor final da dívida, já cogitada em torno de R$ 2 bilhões, e que nos próximos dias deve divulgar o resultado de uma auditoria feita pela Ernst & Young para justamente ter ciência do montante desse passivo.

Mesmo assim, o presidente corintiano afirmou que a herança amarga nas contas não impedirá o Corinthians de atuar cada vez mais em ações sociais.

“O Corinthians vive uma crise por hora. Mas vamos honrar o que é ser Corinthians, inspirar milhões de torcedores e fazer acontecer, impulsionar nossa vocação social, de luta pela democracia e combate à pobreza”, disse Augusto Melo.

Tanto é assim que o clube assinou contrato com a Gerando Falcões, liderada pelo empreendedor social Edu Lyra, para impulsionar o projeto Asmara (“As Maravilhosas”), que envolve cultura de doação, empoderamento feminino e geração de renda para mulheres nas periferias de São Paulo.

A apresentação da parceria foi realizada no teatro do Parque São Jorge. Desenvolvido pela Gerando Falcões e administrado por Mayara Lyra, gerente de negócios sociais da ONG e esposa de Edu Lyra, o projeto surgiu em novembro de 2023, após Edu voltar de uma viagem a Bangladesh.

Lá, ele teve contato com a Brac, uma das maiores organizações sociais do mundo e viu que, para alguém se “graduar” na condição social, é preciso ter dinheiro no bolso. Daí surgiu a ideia das Maravilhosas, que consiste em coletar doação de roupas, realizar triagem das peças, selecionar e reparar peças que tenham valor comercial, montar kits e levá-las para serem vendidas pelas mulheres da favela.

A ideia de associação com o Corinthians é ver na torcida do clube, a maior do Estado de São Paulo, a chance de impulsionar as doações e beneficiar 15 mil mulheres.

“Meu sonho era ser jogador do Corinthians. Como corintiano, meu coração vibra mais para vencer dentro de campo e ajudar a vencer problemas sociais fora dele”, afirmou Lyra. A ideia do empreendedor social é levar o projeto a 5.000 favelas que contam com ações da entidade.

De acordo com Mayara, cada mulher que participa do projeto -hoje são 1.200- recebe mentoria da Gerando Falcões, que envolve técnicas de venda, administração de finanças pessoais e conceitos que levam ao empoderamento.

Assim, com média de ganhos iniciais de R$ 600 -que podem chegar a R$ 5.000- e 33 favelas atendidas hoje, As Maravilhosas espera movimentar neste ano 4 milhões de peças de roupas. Em três meses em 2023, foram 1,2 milhão.

“A venda dos kits é uma oportunidade para mulheres quebrarem o ciclo de pobreza e ingressarem num ecossistema de oportunidades. Não é uma solução de prateleira, mas algo feito para as mulheres e pelas mulheres, sem risco. Se ela não vende o kit, pode devolver. Se vende, fica com parte da venda e outra parte é reinvestida no projeto. E, com renda e conhecimento, essa mulher transforma sua realidade e a do seu entorno”, afirma Mayara Lyra, que desenhou o projeto e o acompanha de perto.

Retrato do impacto positivo do projeto é Carliene da Silva Ferreira. Moradora da Favela dos Sonhos, em Ferraz dos Vasconcelos (SP), onde se instalou com os três filhos após fugir de relacionamento abusivo em Remanso (BA), ela hoje lidera 30 mulheres no projeto As Maravilhosas em sua comunidade.

“A gente sai junta. Se tem bazar, vou com elas. A gente se tornou uma rede de apoio. Na comunidade, muitas mulheres têm maridos controladores. Então a gente viu que, com o projeto, várias se livraram dessa violência, porque tinha gente que ia até pedir dinheiro no farol e agora vai vender com a gente. Eu me vejo em cada história delas, nas dificuldades, por isso sei da potência das Maravilhosas.”

Segundo ela, as mulheres realizam reuniões semanais, o que já “permite um convívio social, e também recebem instruções sobre direitos e renda, o que as ajuda muito”.

A certeza da transformação fica evidente em Lyra, quando questionado o que teria mudado em sua vida se sua mãe tivesse tido a oportunidade de ser uma Maravilhosa. “Puxa vida, ela teria mais tempo e não teria que gastar três horas para se deslocar para conseguir uma renda. E eu teria mais tempo com ela”, disse o empreendedor, com a voz embargada.

A emoção também tomou Lyra no momento em que o presidente do Corinthians fez a primeira doação do clube para campanha, uma camiseta da capitã do time feminino alvinegro, Tamires. “As Brabas e Asmara dão liga”, afirmou.

O otimismo com a força da torcida corintiana também foi ressaltado pelo vice-presidente do clube, Armando Mendonça. Tanto que ele disse que no próximo domingo (14), na estreia do Corinthians no Campeonato Brasileiro, quando enfrenta o Atlético-MG, às 16h, será registrada a maior doação de roupas em um jogo de futebol.

Para isso, serão instaladas caixas para coleta das doações na Neo Química Arena. E a iniciativa também será levada a jogos do time feminino e a outras modalidades do clube paulista.
Além da campanha com a Gerando Falcões, o Corinthians deve neste primeiro jogo do Brasileiro levar 1.000 crianças de comunidades pela primeira vez a um estádio de futebol.

Por Cristiano Cipriano Pombo 

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