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Rebeca é prata e conquista 1ª medalha do Brasil na ginástica feminina em Olimpíadas

O Brasil nunca teve uma ginasta tão técnica e versátil quanto Rebeca

O talento de Rebeca Andrade finalmente foi recompensado com um lugar entre os maiores nomes da ginástica artística. Dona de uma técnica inquestionável, mas continuamente atormentada por problemas físicos, a atleta de 22 anos mirou o palco das Olimpíadas de Tóquio para brilhar. Conseguiu, conquistando a medalha de prata na prova individual geral, nesta quinta-feira (29).

É o primeiro pódio da ginástica feminina do Brasil, após quatro alcançados pelos homens, com Arthur Zanetti (duas vezes), Diego Hypólito e Arthur Nory nas duas últimas edições dos Jogos Olímpicos.

O ouro ficou com a americana Sunisa Lee e o bronze foi para a russa Angelina Melnikova.
Após a cerimônia de premiação, Rebeca disse estar “feliz demais” com a conquista e a dedicou a todas as gerações de ginastas brasileiras.

“Consegui nossa primeira medalha. Todas as pessoas que já passaram pela ginástica feminina do Brasil se veem aqui nessa medalha, estão sentindo orgulhosas de mim e fazendo parte dessa história. Estou só continuando, dando mais um passo na nossa geração”, afirmou.

O individual geral define quem é a ginasta mais completa da competição. As atletas se apresentam nos quatro aparelhos (solo, salto, trave e barras assimétricas) e têm as notas obtidas em cada um somadas.

O ouro passou perto da brasileira. Rebeca perdeu a liderança na prova da trave. Na última etapa, o solo, sua especialidade, ela pisou fora do tablado duas vezes, perdeu pontos e não conseguiu virar a disputa com a americana Sunisa Lee -a diferença final entre elas ficou em 0.135, margem pequena.

Ela ainda tem mais duas chances de medalha em provas individuais: salto, no domingo (1º), e solo, na segunda-feira (2).
Sob o hit “Baile de Favela”, a performance de Rebeca foi acompanhada na arena por palmas das pessoas que estavam na arquibancada -em sua maioria jornalistas e delegações, já que a venda de ingressos foi vetada por causa da pandemia. A brasileira encantou os Jogos de Tóquio ao se apresentar na prova do solo desde a classificatória.

Rebeca foi aplaudida pelos presentes na arena, mas sobretudo por uma pessoa especial: Simone Biles, a lenda da ginástica americana que desistiu de competir na final desta quinta-feira (29) alegando questões de saúde mental.

Durante entrevista sobre a conquista, Rebeca elogiou a atitude de Biles e disse que americana voltará para “arrasar”.

O Brasil nunca teve uma ginasta tão técnica e versátil quanto Rebeca. Até agora, os maiores momentos da ginástica brasileira haviam sido de especialistas, como Zanetti, nas argolas, e a campeã mundial Daiane dos Santos, no solo.

Entre as melhores do mundo no salto e no solo, a paulista de Guarulhos tem como principais características seus movimentos limpos e alta capacidade de foco. Nos últimos meses, na avaliação de pessoas próximas, reforçou o último ingrediente que lhe faltava para brigar pelo pódio: a confiança de que era possível chegar lá.

Como Rebeca não competiu no Mundial de 2019, fazia tempo que não era possível comparar o seu nível com o de outras das principais atletas do mundo. Na classificatória em Tóquio, a brasileira deixou claro que estava na briga por medalha.

Conseguiu vaga para as finais do salto e do solo entre as primeiras colocadas e passou com a segunda melhor somatória para o individual geral. A primeira? Biles, grande nome das Olimpíadas de Tóquio e favorita a praticamente tudo o que tentasse no Japão.

As cartas se embaralharam quando a estrela americana anunciou que não disputaria o individual geral, após também ter abandonado a competição por equipes.

A atitude tomou proporções enormes. Referência em performance, Biles também é muito admirada no meio da ginástica por liderar a defesa da integridade das atletas em meio a denúncias de assédio sexual e moral de treinadores, médicos e dirigentes.

Sua ausência na grande prova individual do programa olímpico inevitavelmente aumentou as chances de todas as postulantes a uma medalha.

Cabia a Rebeca pensar no seu trabalho e repetir a boa execução da classificatória. Um desempenho quase inimaginável para quem precisou passar por três cirurgias de reconstituição do ligamento cruzado anterior do joelho direito e não tem alternativa a não ser continuar a forçá-lo.

A última operação foi antes do Mundial de 2019, que pôs em dúvida sua participação nos Jogos de Tóquio, quando eles ainda ocorreriam em 2020. O adiamento provocado pela pandemia da Covid-19 se mostrou benéfico para a atleta recuperar o ritmo de treinos e a confiança.

Seu técnico, Francisco Porath Neto, o Xico, viu uma atleta mais forte a cada pancada causada pelas lesões. Na terceira, porém, reconhece ele próprio ter ficado sem argumentos para que a paulista seguisse em busca do sonho da medalha.

“Eu caí, falei ‘não aguento mais’, não sei o que fazer para que ela volte a treinar. Se ela dissesse para mim que queria parar, eu não teria mais argumentos. Mas foi o contrário, eu tinha sumido e ela me ligou: ‘Oi, Xico, todo mundo está falando que você está mal, mas não vou parar não, pode me esperar no ginásio, vamos agendar a cirurgia'”, contou o técnico à reportagem antes das competições em Tóquio.

“Aquilo foi um divisor de águas. Vi que essa menina realmente amadureceu, ela quer e merece.”
Ele estava certo. Diferentemente da Rio-2016, quando passou com a quarta nota e terminou em 11º, Rebeca se manteve entre as melhores na hora da verdade e agora pode comemorar que entrará para a história da ginástica.

Texto: Daniel E. De Castro e Leandro Colom

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