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FolhaPress

Vôlei de praia volta com velhos problemas após fiasco nas Olimpíadas

A Confederação Brasileira de Voleibol reduziu o número de duplas inscritas, de 24 para 20, no masculino e no feminino, com a alegação de renovação da modalidade

Ana Patricia/Inovafoto/CBV

O primeiro Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia após o fiasco da modalidade nas Olimpíadas de Tóquio começou nesta semana, no Rio de Janeiro, com uma novidade que desagradou os atletas: a CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) reduziu o número de duplas inscritas, de 24 para 20, no masculino e no feminino, com a alegação de renovação da modalidade.

Jogadores ouvidos pela Folha de S.Paulo, em condição de anonimato, afirmaram que o corte na competição, além de trazer problemas para o desenvolvimento do esporte, por dar menos chances de surgimento de novos talentos, está atrelado, na verdade, à redução de gastos por parte da CBV com hospedagem e transportes.

De fato, a confederação perdeu recursos consideráveis com a pandemia. Sua receita bruta despencou de R$ 89.448 milhões, em 2019, para R$ 52.983 milhões, em 2020, conforme último balanço.

A CBV afirma apenas que a redução vem para renovar a modalidade. A justificativa, no entanto, é questionada pela Comissão de Atletas do vôlei de praia, que enviou uma carta à confederação.

“A Comissão entende que a renovação é um processo composto por diversos fatores, tais como: maior investimento na base e a realização de mais torneios desta categoria”, afirma o grupo no documento, assinado por Carlos Arruda, seu presidente.

Os atletas argumentam que, no torneio com 24 duplas, havia a possibilidade de até oito vagas para o qualificatório. Na atual temporada, serão apenas quatro. Normalmente esses lugares são ocupados por atletas jovens, que perdem espaço com a redução.

A insatisfação dos atletas vem desde as Olimpíadas de Tóquio. No Japão, as duplas brasileiras ficaram de fora do pódio pela primeira vez desde que o vôlei de praia estreou nos Jogos, em Atlanta-1996. São 13 medalhas conquistadas de lá pra cá, sendo ao menos duas por edição.

Alison, após ser eliminado nas quartas de final ao lado de Álvaro, desabafou. “O Brasil ganhou medalha de ouro em 2016 e não mudou nada, não teve investimento, ficou tudo parado, do mesmo jeito, menos etapas [circuito nacional], esperando Alison e Bruno, como foram Ricardo e Emanoel”, disse.

Um dos sinais da falta de renovação é que, no Japão, as duas duplas masculinas foram compostas por atletas a partir de 30 anos: na ocasião, Álvaro, 30, e Alison, 35; Evandro, 31, e Bruno Schmidt, 34.

“Quando comecei a jogar vôlei, o circuito brasileiro tinha 24 etapas. Quanto mais você joga, mais aparecem jogadores. Quanto mais o sistema fica seletivo, pegando um atleta e dando tudo para ele, com menos atletas, mais roleta-russa fica”, afirmou Alison, em Tóquio.

Uma dupla disse à reportagem que formato reduzido é desestimulante. Afirmaram precisar de ajuda financeira de familiares para disputar os torneios e que há poucas esperanças de trilhar uma carreira de destaque com a atual conjuntura da modalidade no Brasil.

O calendário é desafiador para quem deseja buscar seu espaço em competições internacionais e Olimpíadas. Para chegar ao Circuito Mundial, cada país tem direito a quatro times no máximo. As três primeiras são preenchidas pelas melhores duplas do ranking, e as demais brigarão entre si em confrontos eliminatórios.

A CBV defende que, atendendo às demandas dos jogadores, aumentou o número de etapas de oito, na temporada anterior, para dez na atual. A confederação, porém, considera a soma das 5 etapas Open (torneio principal) com as das categorias de base (sub-21, sub-19 e sub-17) para chegar a essa quantia.

A comissão de atletas, porém, lembra que logo após as Olimpíadas Rio-2016, só o Open contava com sete etapas. Portanto, mesmo com esse aumento atual, a quantidade de provas ainda estaria defasada.

Outro atleta se queixa da dificuldade de bancar uma equipe de apoio (técnico, preparador físico e fisioterapeuta) até conseguir rodagem no circuito e pontuação no ranking nacional. Parte dos participantes mais jovens participantes recebe apenas o Bolsa Atleta.

Entre os mais de 100 jogadores, são poucos os que têm patrocinadores -dependem da confederação para sobreviver. No último ciclo olímpico (Tóquio), o Banco do Brasil, parceiro da CBV desde 1991, patrocinou à parte somente Alison, Bruno Schmidt, Ágatha, Duda, Evandro, Ana Patrícia, Rebecca e Álvaro.

Em razão da pandemia o circuito sofreu com cancelamentos de torneios, a CBV emprestou, em 2020, o montante de R$ 119 mil para 31 atletas do vôlei de praia sem a cobrança de juros e parcelou em três meses, sendo a primeira com vencimento no dia 30 de setembro, mês em que começou a temporada passada do circuito. Nem todos conseguiram cumprir os prazos com a entidade.

Os competidores também reclamam que o calendário só foi divulgado pela confederação a menos de um mês do início da temporada, o que atrapalhou o planejamento e a preparação.

“Até o dia 8 de setembro sequer tínhamos qualquer informação a respeito de como seria realizada a etapa”, afirma a comissão de atletas em trecho da carta divulgada.

A primeira etapa do Circuito Brasileiro começou no último dia 22 e vai até este domingo (26), no Rio de Janeiro.

Procurada pela Folha de S.Paulo, a CBV afirmou, por email, que publicou em seu portal textos referentes às novidades do vôlei de praia, mas não respondeu às questões feitas pela reportagem. No site, após a pressão dos atletas, a entidade diz que, após a primeira etapa com 20 duplas, irá estudar se ampliará para 24 na segunda e terceira etapas.

A confederação irá pagar R$ 564 mil em premiação por etapa, sendo R$ 48 mil para a dupla campeã, R$ 33 mil para a vice e R$ 23 mil à terceira colocada. O restante do valor é distribuído, de forma regressiva, às demais duplas do torneio.

Por: CARLOS PETROCILO E JOÃO GABRIEL

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