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FolhaPress

Reino Unido vai às urnas com Partido Conservador em ruínas e brexit inominável

Dúvidas sobre resultados de votação desta quinta (4) se referem apenas ao tamanho da derrota da sigla no poder

Foto: Phil Noble /Reuters/Folhapress/Reprodução

Ao melhor estilo do humor britânico, a plataforma de streaming falsa “Conflix” (uma paródia, claro, da Netflix) anuncia uma série de cinco episódios chamada “Chaos & Decline’”(caos e declínio). Cada episódio é dedicado a um dos cinco primeiros-ministros conservadores que estiveram no poder do Reino Unido nos últimos 14 anos. Na mesma página, lê-se: “Pare o caos: doe £10,99 [cerca de R$ 78] para evitar outra temporada”.

‘Pare o caos’ é o slogan da campanha do líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, favorito para acabar com o recente domínio do Partido Conservador nas eleições gerais que ocorrem no Reino Unido nesta quinta-feira (4).

A plataforma fake traz ainda outros “fracassos de público” como “Recession” (paródia de “Succession”). Ao clicar para assistir, surge a mensagem “ninguém realmente quer esse conteúdo” e o link para ler o plano de governo dos trabalhistas.

É o que de mais ousado existe na campanha do ex-socialista Starmer, marcada pela absoluta cautela de quem sabe que a eleição está quase ganha diante do enorme desgaste dos rivais no poder.

Milionários que eram grandes doadores conservadores migraram para os trabalhistas; o músico Elton John, em vídeo ao lado de seu marido, David Furnish, foi uma entre várias celebridades que declararam apoio; e até os jornais Sunday Times e The Sun, de propriedade de Rupert Murdoch e com longo histórico de apoio aos conservadores, agora estão do outro lado. Antes, Daily Mirror, Guardian e Independent já haviam anunciado apoio a Starmer.

“É uma campanha essencialmente defensiva, tentando não ceder nenhum terreno. Isso explica a posição pouco incisiva em temas como brexit e imigração”, diz à Folha o professor de política Liam Stanley, da Universidade de Sheffield.

A saída do Reino Unido da União Europeia, aprovada em 2016, drenou a maior parte dos esforços dos governos do premiê anterior, Boris Johnson, e do atual, Rishi Sunak, com resultados desastrosos para a economia britânica.

Apesar disso, o brexit não foi um assunto nesta eleição. “O brexit é como Voldemort, o bruxo malvado da série Harry Potter: ambos são horríveis e não devemos dizer seu nome”, afirma Patrick Dunleavy, professor emérito de ciência política da London School of Economics (LSE).

Na campanha, Starmer disse apenas que reabrir o debate sobre o brexit traria turbulência. As pesquisas de opinião indicam que 60% dos britânicos poderiam ser a favor da reintegração à UE, e 38% seriam contrários —uma maioria ainda considerada pouco convincente para revisitar o assunto.

Diante da derrota aparentemente inevitável, Sunak passou a dedicar mais tempo de sua campanha a alertar sobre os perigos de uma supermaioria dos trabalhistas no Parlamento, o que os tornaria irresponsáveis, em sua visão —o premiê tentou negar que já tivesse desistido da disputa, ainda que outros nomes conservadores já estejam de olho em substituí-lo na liderança do partido.

O Partido Trabalhista tem feito o prognóstico de obter até 350 das 650 cadeiras da Câmara dos Comuns, o que lhes daria uma margem confortável para controlar a Casa. Mas, como o voto não é obrigatório, um dos pontos de atenção é o comparecimento às urnas. Em eleições anteriores, uma tendência verificada foi a de que o apoio aos trabalhistas parecia maior nas pesquisas e não se concretizava no dia da votação.

Um exemplo são os jovens, fortemente contra o atual governo —os conservadores têm menos de 10% de apoio entre aqueles de 18 a 24 anos. Mas esse é também um dos grupos de menor comparecimento às urnas. “Se você quer a mudança, você tem que votar para isso”, insistiu Starmer nos últimos dias de campanha.

Assim, a questão, segundo analistas, será o tamanho da vitória trabalhista. Algumas das pesquisas sugerem até uma maioria recorde, que excederia a histórica eleição trabalhista de 1997, com Tony Blair, quando os trabalhistas obtiveram 418 cadeiras.

Starmer adaptou seu discurso ao centro para alcançar eleitores indecisos e tem feito promessas pouco ou nada polêmicas, como regras fiscais mais rígidas, melhora na saúde e segurança pública e a criação de uma estatal para energia limpa.

O sistema de votação do Reino Unido é distrital —assim, o território é dividido em 650 distritos, cada um escolhendo um parlamentar. Starmer representa o distrito de Holborn & St Pancras, enquanto Sunak, o de Richmond. É possível que o líder de um partido não se eleja em seu distrito e ainda assim se torne primeiro-ministro, mas isso nunca aconteceu.

Atrás de trabalhistas e conservadores e à frente dos liberais-democratas está o ultradireitista Reform UK, do falastrão Nigel Farage, com uma agenda radical anti-imigração e que tem crescido nas pesquisas, chegando a 16,1% das intenções, ante 20,5% dos conservadores.

No entanto, devido ao modelo eleitoral, que não leva em conta o total de votos na divisão de cadeiras, é improvável que Farage consiga um número expressivo de assentos.

Por Vandson Lima

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