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FolhaPress

Bolsonaro defende Operação Acolhida, mas ignora caos de venezuelanos em Pacaraima

Bolsonaro havia prometido visitar Pacaraima, mas desistiu

Foto:Wilson Dias/Agência Brasil

Apesar de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter dito, nesta terça-feira (26), que o Brasil é “um país humanitário”, que faz “seu trabalho de acolher e integrar” os venezuelanos, a situação dos refugiados no estado de Roraima é precária.

Em Boa Vista, onde o mandatário visitou um dos abrigos da Operação Acolhida, liderada pelo Exército, há 1.803 migrantes venezuelanos desabrigados, sendo que 548 deles têm menos de 18 anos, segundo relatório mais recente da Organização Internacional de Migrações (OIM), relativo a setembro. Desse total, 825 pessoas estão dormindo no posto de recepção da rodoviária e 122, pernoitando na rua.

Bolsonaro havia prometido visitar Pacaraima, cidade na fronteira com a Venezuela, para divulgar o trabalho da Operação Acolhida. Mas desistiu de última hora e restringiu seu roteiro a Boa Vista.

Talvez porque Pacaraima não seja o melhor exemplo de assistência e acolhimento aos venezuelanos. Segundo a OIM, no município de 18 mil habitantes há 4.225 venezuelanos desabrigados, 2.330 deles dormindo embaixo de marquises e nas calçadas. Seria como se a cidade de São Paulo tivesse 1,6 milhão de refugiados vivendo nas ruas.

Dos migrantes em Pacaraima, 1.539 são crianças e adolescentes com menos de 18 anos.
Há mais 1.582 venezuelanos nos dois abrigos da Acolhida na cidade, segundo dados da Casa Civil. Em Boa Vista, há 6.753 refugiados espalhados por 13 estruturas.

“O Brasil é um país que tem profundo respeito pelo sofrimento dos outros”, disse Bolsonaro nesta terça, aos venezuelanos em um abrigo em Boa Vista. “Vamos fazer o possível para integrá-los [venezuelanos] à sociedade.”

A Secretaria de Comunicação da Presidência veiculou campanhas nas redes sociais com o mote “Operação Acolhida, o socialismo segrega, o Brasil acolhe”.

As mais de 2.300 pessoas nas ruas de Pacaraima têm à disposição apenas 16 banheiros e 8 duchas, construídos pela Cáritas com financiamento da Usaid, agência americana para desenvolvimento internacional. O governo municipal, por sua vez, não oferece infraestrutura de higiene para venezuelanos que estão fora de abrigos.

Os números vêm aumentando desde que a fronteira foi reaberta. Ela havia sido fechada para a entrada de migrantes e solicitantes de refúgio venezuelanos em março de 2020, com portarias que alegavam motivos sanitários devido à pandemia.

Assim, venezuelanos ficaram proibidos de cruzar a divisa por terra, e os que entrassem de forma irregular estavam sujeitos a deportação sumária, medida que viola os tratados internacionais de refúgio.

A decisão só foi revogada em 23 de junho deste ano.
Desde o início da crise política e econômica na Venezuela, cerca de 5,9 milhões de cidadãos deixaram o país do ditador Nicolás Maduro.

Segundo o dado mais recente da R4V, plataforma que reúne organizações da sociedade civil e da ONU para imigração, há 261.441 refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil.

Em agosto, questionado pelo jornal Folha de S.Paulo sobre os preparativos para a possível visita de Bolsonaro, o prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato (Republicanos), afirmou por mensagem que pretendia “mostrar a realidade vivida pela população, sem mascará-la, de modo que haja mais sensibilidade do governo federal no que tange a segurança na fronteira, a fluidez da interiorização e demais temas pertinentes a imigração”. Bolsonaro preferiu não passar por Pacaraima.

Texto: Patrícia Campos Mello

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