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Contra Doria, Alckmin forma frente com França, Kassab e Skaf para 2022

Na campanha de 2018, Doria e Alckmin se desentenderam por causa de recursos financeiros

Considerado fora do PSDB na prática, o ex-governador Geraldo Alckmin formou ao redor da sua candidatura ao Governo de São Paulo em 2022 uma frente de políticos que o apoiam e que, como ele, hoje estão em campo oposto ao do governador João Doria (PSDB) -que terá seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), como candidato ao comando do estado.

Em maior ou menor grau, a oposição a Doria une Alckmin, o ex-governador Márcio França (PSB), o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (MDB).

À reportagem França afirmou que construir esse grupo é importante e o definiu como “um embrião dessa engrenagem no futuro”, ainda que não haja definição de posições em chapas.

“Tem um objetivo eleitoral, que é derrotar Doria e ganhar o Governo de São Paulo”, completa. Na opinião de França, o tucano acumula equívocos na sua gestão, como aumento de impostos e prejuízos aos servidores públicos.

Ainda que políticos próximos ao grupo afirmem que não necessariamente o ataque a Doria e Garcia guiará a tática eleitoral, os envolvidos na articulação guardam seus ressentimentos com o governador.

No caso de Alckmin, por tê-lo lançado na vida pública e o apoiado nas prévias de 2016 e 2018, contra alas do PSDB, para depois ser preterido como candidato ao governo.

Na campanha de 2018, Doria e Alckmin se desentenderam por causa de recursos financeiros e da aproximação do atual governador com Jair Bolsonaro, de quem hoje é inimigo. Alckmin chegou a insinuar que Doria era traidor.
França, por sua vez, se consolidou na eleição de 2018 como o anti-Doria e rememora até hoje seus embates com o governador em debates. O ex-governador não poupa críticas ao tucano em entrevistas e discursos.

Kassab, que já teve uma grande briga com Garcia no passado, também se afastou do governador. Em 2018, ele chegou a ser indicado secretário da Casa Civil por Doria, mas nem assumiu o posto.

À época, ele pediu licença para se defender de acusações de corrupção após ter sido alvo de uma operação de busca e apreensão, sob suspeita de ter recebido valores ilegalmente da JBS, o que ele nega.

Até dezembro de 2020, quando deixou o cargo de vez, Kassab foi uma espécie de secretário fantasma de Doria -permaneceu licenciado, mas teve um aliado ocupando sua cadeira. Em 2021, a pasta foi assumida por um tucano.
Skaf tem relação próxima com Bolsonaro, que vive em guerra com Doria. O tucano também mirou em Skaf na campanha de 2018, relacionando-o a Michel Temer (MDB), que tinha baixa popularidade.

Skaf chegou a ganhar direito de resposta a uma peça tucana que mencionava a liberação, pela Lei Rouanet, de R$ 14 milhões a um filho do empresário.

Esse grupo confirmou presença em evento partidário conjunto do PSD e do PSB neste sábado (25), na região metropolitana da capital. Dali sairá mais uma fotografia dos membros da tropa de Alckmin, que já foram registrados reunidos em ocasiões variadas -do aniversário de Kassab a eventos do Sindicato dos Padeiros.

Aliados de Alckmin afirmam que sua saída do PSDB é certa, conforme ele próprio já admitiu, mas ainda não anunciou. Uma filiação ao PSD, que Kassab preside, e uma chapa com França também são movimentos considerados praticamente fechados, porém tampouco formalizados a um ano da eleição.

O ex-governador não planeja aproveitar o ensejo para tornar públicos seus próximos passos, mas o evento de sábado foi definido por um aliado como uma espécie de anúncio implícito. Deve haver outro evento semelhante no sábado seguinte, em São José do Rio Preto.

Alckmin lidera a corrida eleitoral com 26% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Em seguida aparecem Fernando Haddad (PT), com 17%; o ex-governador Márcio França (PSB, com 15%, empatado tecnicamente com o petista) e o líder de movimentos de moradia Guilherme Boulos (PSOL, com 11%).

Em um cenário sem Alckmin, Garcia aparece em quinto lugar, com 5%. A pesquisa foi realizada de 13 a 15 de setembro com 2.034 pessoas em 70 cidades do estado. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

A articulação ao redor de Alckmin tem, contudo, arestas a serem aparadas.

O ex-governador tem ainda a opção de se filiar ao partido que surgirá da fusão entre DEM e PSL. O papel de Skaf, que pode ter como destino o PSD, é incerto: poderia ser candidato ao Senado na chapa de Alckmin ou candidato a governador.

Embora França afirme que formará chapa com Alckmin, há quem duvide da sua real disposição em ser vice e aposte que ele bancará sua candidatura própria, que perdeu por pouco de Doria em 2018. Aliados de França também não descartam que ele seja o cabeça na dobradinha com Alckmin.

“Acho que vamos estar juntos, mas o formato o tempo vai dizer”, disse França à reportagem.

Há ainda a definição de alianças nacionais para a Presidência da República. Tanto o PSD como o PSB são vistos como possíveis aliados de Lula (PT), e Alckmin não gostaria da associação com a campanha petista. O PSD, por enquanto, investe na candidatura própria de Rodrigo Pacheco (DEM).

O PSB também tem ligação com Ciro Gomes (PDT) -a ideia é consolidar uma aliança entre PSB, PDT, Rede e PV.

“Qualquer aliança em São Paulo passa pelo palanque a Ciro. Se for o Alckmin, será um prazer grande, temos identidade”, afirma o presidente do PDT em São Paulo, Antonio Neto.

A questão das alianças nacionais é minimizada no entorno de França e Alckmin sob o argumento de que as coligações locais podem ser descoladas e que a polarização estadual se dá em torno de Doria.

Alckmin tem ainda o apoio do Avante. Para além dos partidos, ele busca formar uma base de eleitores no movimento sindical, mantendo contato com sindicatos e obtendo apoios sobretudo entre membros da Força Sindical e da UGT.

Questionado pela reportagem nas últimas semanas, Alckmin afirmou que falaria sobre seu futuro partidário em breve. Nesta segunda-feira (20), venceu o prazo de inscrição nas prévias estaduais do PSDB de São Paulo -apenas Garcia se inscreveu, o que consolidou o processo de saída de Alckmin do partido que ajudou a fundar, em 1988.

Naturalmente, Alckmin se tornou um polo congregador da já conhecida rejeição a Doria no PSDB. Principal adversário do governador na sigla, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) divulgou uma carta aberta nesta semana em que diz considerar “incompreensível o silêncio do PSDB” sobre a “eminente saída” de Alckmin.

Aécio presta solidariedade a Alckmin e não poupa críticas veladas a Doria, que teve Alckmin como padrinho político. Garcia também foi secretário de Alckmin de 2011 a 2018.

“Insisto: o silêncio de nossos líderes, especialmente alguns de São Paulo, que trabalharam a seu lado ou dele receberam decisivo apoio em suas trajetórias, atualizam, lamentavelmente, a velha máxima, segundo a qual, na política, o dia da gratidão é a antevéspera da traição, ou, como diria Leonel Brizola: ‘a política ama a traição, mas abomina o traidor'”, afirmou Aécio.

Alckmin também recebeu aceno do rival interno de Doria nas prévias presidenciais tucanas, o governador Eduardo Leite (PSDB-RS). Aliados de Alckmin afirmam que sua demora em se desligar do PSDB tem como objetivo ajudar Leite, já que a saída do ex-governador pode provocar uma baixa na militância paulista que apoia o gaúcho.

O próprio ex-governador afirma estar distante dessa disputa, mas dois ex-presidentes do PSDB de São Paulo ligados a ele, Pedro Tobias e Antonio Carlos Pannunzio, divulgaram carta de apoio a Leite.

Questionado sobre apoio de Alckmin, Leite afirmou ter respeito e admiração pelo ex-governador. “Ele é peça importante nesse processo. Eu vou trabalhar até o último minuto para que ele permaneça no PSDB e esteja conosco neste processo. É um conselheiro”, disse na terça (21).

Do outro lado, Doria também montou um time ao redor de si e de Garcia, com nomes tucanos como Antônio Imbassahy e Aloysio Nunes, e de partidos aliados, como Baleia Rossi (MDB) e a ala do DEM paulista comandada por Alexandre Leite e Milton Leite. Rodrigo Maia (sem partido) foi outro reforço na articulação.

Garcia, sem expressão nas pesquisas, tem a seu favor a máquina do Palácio dos Bandeirantes. Neste ano, o governo anunciou um programa de obras e investimentos de R$ 47,5 bilhões e um programa social de R$ 1 bilhão. O jornal Folha de S.Paulo revelou que Doria multiplicou os repasses a deputados federais e estaduais.

“Formar uma frente [de apoiadores] é importante, porque não temos dinheiro. É tostão contra milhão”, afirma Tobias, ressaltando que o Orçamento de São Paulo pode não comportar as promessas de Doria.

O ex-dirigente tucano afirma que a aliança de Alckmin tem um tom de oposição a Doria, mas que não é só esse seu atrativo. “Geraldo é um candidato bom, com chances grandes de ganhar.”

Com recall político, Alckmin larga na frente, mas é visto em pesquisas qualitativas como alguém que já teve seu momento -ele governou São Paulo por mais de 12 anos em quatro mandatos.

Sua nova candidatura vem após ter amargado o pior resultado do PSDB em eleições presidenciais em 2018, com 4,76%.

Para evitar um novo tombo, Alckmin busca ampliar seu eleitorado entre os trabalhadores por meio de reuniões e eventos em sindicatos. Questões como precarização e desigualdade fazem parte do seu discurso a esse público.

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, afirma que, em sua central, uma parcela significativa de dirigentes apoia Alckmin, sobretudo na aliança com França. O candidato do PSB teve apoio majoritário dentro da Força em 2018.

“Alckmin é aberto ao diálogo e tem visitado várias entidades nossas, de frentistas, padeiros, químicos, metalúrgicos. Alckmin e França é uma dobradinha forte”, avalia Juruna.

“A estratégia eleitoral de se aproximar dos sindicatos é importantíssima, porque os sindicatos têm muita representatividade, muitas raízes em diversas cidades. E os sindicatos estão em busca de quem possa fortalecer a instituição, de ter um canal, já que [Michel] Temer e Bolsonaro prejudicaram a organização dos trabalhadores”, completa.

Por Carolina Linhares

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