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Esquerda petista fala em aliança temerária de Lula com Alckmin e eleva pressão contra chapa

Encontro chegou a reunir 324 pessoas

Reunidos na noite desta sexta-feira (4/3), dirigentes de correntes da esquerda do PT decidiram levar ao diretório nacional –principal instância do partido– sua objeção à escolha do ex-governador Geraldo Alckmin como vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a corrida presidencial.

Convidados a participar da reunião virtual, o deputado federal Rui Falcão (SP) e o ex-deputado José Genoino –dois ex-presidentes da sigla– criticaram a trajetória política do ex-tucano. A reunião do diretório está programada para o dia 18.

No encontro virtual desta sexta, que chegou a reunir 342 pessoas, Falcão chamou de temerária a eventual escolha de Alckmin. Escalado para integrar o conselho político de Lula, Falcão afirmou que, em São Paulo, ninguém desconhece Alckmin e que, em outros estados, já há uma noção pelo menos aproximada da devastação que foi a gestão tucana à frente do Palácio Bandeirantes.

Falcão lembrou ainda de críticas feitas por Alckmin a Lula e ao PT. Entre elas, a que destacou que, ao disputar nova eleição presidencial, Lula pretendia voltar ao local do crime.
“O que leva as pessoas a, sabedoras de tudo isso, aceitarem ou pelo menos não se manifestarem contra, em escala nacional, a essa temeridade que é escolher Alckmin para a vice de Lula?”, perguntou o deputado.

Falcão –que integra a tendência Novo Rumo– minimizou o argumento de que o que Lula quer está decidido, frequentemente lançado para se enterrar debates internos no partido.
“É contraditório o Lula não ir ao bate-papo com o [banco] BTG e trazer consigo a candidatura do Alckmin. Não vai ao BTG para não fazer concessões ao mercado, mas a candidatura do Alckmin aparece como apaziguadora das resistências do mercado, como uma espécie de carta aos brasileiros com outro nome”, afirmou Falcão.

Genoino também comparou a opção de Alckmin para a vice com uma reprodução da Carta ao Povo Brasileiro, divulgada durante a disputa de 2002 para abrandar resistências ao nome de Lula.
“Aceitar o ex-governador de São Paulo como vice do Lula é uma concessão que pode representar a segunda Carta ao Povo Brasileiro. Hoje esse equívoco seria maior porque está exigindo concessões ao modelo neoliberal”, disse.

Assim como Falcão, Genoino defendeu que uma aliança com Alckmin seja submetida à votação partidária.
Em 2002, o nome de José Alencar (PL) como vice chegou a ser rejeitado, sendo aprovado após intervenção direta de Lula e do então presidente do partido, José Dirceu.

“Nós, da esquerda petista, não temos direito à omissão, ao pragmatismo, ao medo perante às instâncias partidárias e lideranças do PT”, disse Genoino.

Segundo Genoino, essa será uma eleição dura, exigindo grande mobilização popular, um grande encantamento, um grande entusiasmo.
“No nosso entender esse tipo de campanha não comporta uma aliança com quem representou o projeto tucano em São Paulo, com quem representou o pensamento privatista, com quem representou um pensamento à direita”, afirmou o ex-deputado, a criticando uma tentativa de humanização de neoliberalismo.
O ex-deputado Renato Simões também ressaltou a falta de debate interno sobre o vice da chapa de Lula.

“Lutamos para tirar o Lula da cadeia para que ele nos lidere. Não para que nos substitua”, reclamou em alusão à concentração de decisões nas mãos de Lula.

A incompatibilidade da trajetória de Alckmin com as propostas do PT foi também lembrada por Celso Marcondes, ex-diretor do Instituto Lula.
“Podemos fazer uma ficha corrida do Alckmin que nos remete aos programas de governo. Não tem como fechar com o Alckmin e manter os pontos essenciais do programa”, disse.

Além de lembrar que o diretório nacional do PT não se reúne há dois meses, o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont disse que o partido nasceu na contramão das alianças com o que chamou de setores da burguesia.

Referindo-se a Alckmin como “esse cidadão” ou “essa figura”, afirmou que o ex-governador foi um dos maiores privatistas que passaram pelo governo de São Paulo, perguntou a que partido Alckmin se filiará e que compromissos programáticos assumirá.
“Não vejo possibilidade que essa pessoa faça uma autocrítica de sua vida política dos últimos 30, 40, anos”, disse.

A exemplo de outros participantes, o ex-prefeito admitiu o temor de Lula, se eleito, ter o mandato cassado, sendo substituído por uma pessoa sem afinidade com o programa político.

Dirigente da corrente Democracia Socialista, Joaquim Soriano afirmou que bloquear o debate dentro do PT é inaceitável. Chamou de tragédia a hipótese de ter Alckmin como vice. Ele perguntou qual será o discurso da campanha de Fernando Haddad a governador tendo Alckmin como cabo eleitoral.

“Como o Haddad vai fazer em São Paulo? Porque o Alckmin estará ao lado dele, né? Vai dizer que é um governo de continuidade, só não vai espancar professor e estudante e colocar fogo em sem-teto?”
Artífice da aliança entre Lula e Alckmin, o ex-prefeito de São Paulo foi citado como beneficiário do acordo como potencial candidato ao governo de São Paulo. Os participantes da reunião chegaram a criticar a priorização de São Paulo em detrimento de outros estados.

Por Cátia Seabra

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