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FolhaPress

Ex-assessora de Flávio citada em ‘rachadinha’ ganha R$ 407 mil de candidatos bolsonaristas

Alessandra Ferreira de Oliveira, que é técnica em contabilidade, foi a escolhida para prestar serviços a 28 candidatos e candidatas

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Uma ex-assessora de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), que foi citada na investigação do caso das “rachadinhas”, recebeu R$ 407 mil de campanhas bolsonaristas nestas eleições.
Alessandra Ferreira de Oliveira, que é técnica em contabilidade, foi a escolhida para prestar serviços a 28 candidatos e candidatas.

A maioria dos contratantes (18) é filiada ao PL, atual partido de Flávio. A lista de contratantes inclui o irmão de Flávio, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tenta a reeleição.
Há ainda quatro integrantes do PP e do Republicanos, legendas que compõem a coligação do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O dinheiro usado nas campanhas para pagar Alessandra é proveniente principalmente dos fundos eleitoral e partidário, além de doações privadas. Os dados estão nas prestações de contas enviadas pelas campanhas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até a última sexta-feira (23/9).

Alessandra afirmou, por meio de mensagem à Folha, que é “pessoa séria, trabalha duro, estuda e se atualiza”. Disse ainda que, desde 2018, é perseguida por veículos de comunicação com o propósito de “atingir a família Bolsonaro.”
“À míngua de conteúdo relevante, a Folha de S.Paulo e o UOL permanecem atingindo pessoas idôneas, honestas e trabalhadoras, com o fito evidente de fazer política”, afirmou.

Alessandra teve os sigilos fiscal e bancário quebrados pela Justiça no âmbito da investigação conhecida como “rachadinha”, em que órgãos de investigação e imprensa mostraram que a família do presidente, em especial o senador Flávio Bolsonaro, movimentou cerca de R$ 3 milhões em dinheiro vivo.

O pedido de quebra foi feito para rastrear suspeitas de que os salários de funcionários lotados no gabinete de Flávio na Alerj eram apropriados pelo ex-deputado estadual, um esquema operado por Fabrício Queiroz, segundo acusou o Ministério Público estadual em denúncia do caso.

No final de 2021, a pedido da defesa de Flávio, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou todas as decisões tomadas pela primeira instância da Justiça do Rio de Janeiro no âmbito do inquérito.
Em razão disso, a Promotoria pediu em maio passado ao Tribunal de Justiça fluminense a anulação da denúncia apresentada contra o hoje senador e os demais acusados.

A ex-funcionária de Flávio recebeu pagamentos na atual eleição por meio de duas empresas registradas em seu nome, a Ale Soluções Empresarial e a Mandato Prime Serviços.

Ambas estão localizadas na zona oeste do Rio, em Vargem Pequena e Guaratiba. A Ale Soluções presta serviços de escritório e apoio administrativo. A Mandato Prime, atividades de contabilidade, segundo o site da Receita Federal.
Esta última, que recebeu a maior fatia de recursos (R$ 318 mil), ganhou uma nova sócia em maio deste ano: a advogada Karina Kufa.

Kufa já atuou na defesa do presidente e atualmente presta serviços de consultoria jurídica e serviços advocatícios para a campanha de Eduardo Bolsonaro, por R$ 57,5 mil. Além do campo eleitoral, a advogada atua regularmente em nome de Eduardo em outras áreas do direito.

Os maiores repasses à Mandato Prime foram os das deputadas federais do PL Carla Zambelli (SP) e Major Fabiana (RJ), que contrataram os serviços de contabilidade de Alessandra por R$ 60 mil cada um.
Alessandra também recebeu quantias, por meio das duas empresas, da candidatura a deputado federal pelo PL de São Paulo do ex-presidente da Fundação Palmares Sérgio Camargo (Mandato Prime R$ 25 mil e Ale Soluções R$ 71,8 mil).

O ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro preso por suspeita de envolvimento com jogo do bicho em 9 de setembro, Allan Turnowski, também pagou R$ 20 mil à empresa de Alessandra. Ele se candidatou a uma vaga de deputado federal pelo PL no Rio.

Também ex-assessora de Flávio citada no esquema das “rachadinhas”, Valdenice Meliga, que se candidatou a deputada estadual pelo PL do Rio, pagou R$ 5.000 a Alessandra.

Em 2018, parte do dinheiro do fundo eleitoral entregue a candidatas do PSL no Rio, partido então comandado por Flávio no estado, também beneficiou a empresa da técnica em contabilidade. Ela era a primeira-tesoureira da legenda na época.

De um total de 42 concorrentes do partido, 33 candidatas contrataram Alessandra. A maioria (26) teve votação irrelevante, levantando suspeitas sobre o uso de laranjas para a liberação de recursos destinados a postulantes mulheres.

No início deste ano, as contas do PSL junto ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro relativas a 2018 foram reabertas para correção de divergência contábil entre os balanços dos diretórios estadual e nacional no valor de R$ 550 mil.

Em resposta a perguntas enviadas pela Folha, Alessandra afirmou ser “referência em sua profissão, que tem cursos de prestação de contas eleitorais e gestão de partidos políticos.”

“Todos que trabalharam com o senador Flávio tivemos nossas vidas invadidas, mas nada provaram. Presto meus serviços com qualidade e ética. Pago meus impostos”, disse ela, que se apresenta como contadora, gestora e jornalista.

Ela explicou que uma de suas empresas atua com gestão de contas para candidatos, cursos, treinamento de equipe, estratégia e marketing; e a outra, com contabilidade especializada em prestação de contas eleitorais.

Sobre sua parceria com Karina Kufa, ela afirmou: “Todo candidato, mesmo que renuncie, ou que não tenha nenhum voto, é obrigatório ter um advogado e um contador para fazer sua prestação de contas. Dessa forma é muito comum um contador e um advogado trabalhar em parceria.”

“Por isso, tenho também parceiros advogados com experiência em eleitoral, pois dependendo do trabalho que a prestação de contas vai dar é necessário a consultoria de um bom advogado eleitoral. Um escritório de contabilidade necessita de um bom advogado, por isso minha parceria com a Dra. Karina que é referência nessa área”, declarou.

“Toda e qualquer prestação de serviços feita por mim ou por minha empresa foi regularmente documentada, com amplo lastro fiscal e, sobretudo, com farta comprovação dos serviços prestados a preço de mercado”.
Karina Kufa, por sua vez, afirmou que Alessandra, assim como todas as pessoas que tinham vínculo com o gabinete de Flávio na Alerj, “teve sua vida devastada, sem nada ter sido encontrado”.

“É uma das melhores contadoras na área eleitoral, razão pela qual presta serviço a diversos candidatos de renome. Fez um excelente trabalho nas eleições passadas e não há nada que a desabone”, afirmou. “A Alessandra aprovou as contas de todos os candidatos que trabalhou em 2018 e 2020. Não há técnica melhor.”
Carla Zambelli afirmou que, antes de contratar a empresa de Alessandra, verificou que “não existe qualquer irregularidade”.

“Tivemos uma indicação de que a prestadora de serviços tinha experiência com a contabilidade de campanhas eleitorais”, disse. “A contratação englobou serviços jurídicos e contábeis, não havendo negociação isolada ou qualquer conversa de natureza política com a empresa.”
A parlamentar afirmou que Kufa sempre a atendeu “com excelência” e que acredita que o serviço da empresa seguirá esse padrão.

A deputada Major Fabiana respondeu que nenhuma irregularidade foi identificada contra Alessandra e que “é comum partidos fecharem pacotes com advogados e contadores nas eleições, o que confere um preço muito menor e não teria problema de ter cobrado o mesmo valor para todas naquela época”.

Disse também que contratou os serviços dela “porque é uma excelente profissional” e que Alessandra foi sua assessora na primeira campanha “e trabalhou de forma exemplar”.
Eduardo Bolsonaro e Sergio Camargo não responderam.

Por Constança Rezende e Marcelo Rocha 

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