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FolhaPress

GDias admite manipulação de relatório da Abin sobre 8/1 enviado ao Congresso

Ex-ministro de Lula diz que documento não condizia com realidade e nega que mudança seja adulteração ou fraude

Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do governo Lula, o general da reserva Gonçalves Dias  admitiu nesta quinta-feira (22) que houve edição de relatório da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) enviado ao Congresso Nacional com os alertas disparados às vésperas dos ataques às sedes dos Poderes de 8 de janeiro.

Segundo GDias, o documento original, que mencionava o “ministro do GSI” entre os destinatários dos informes, não “condizia com a realidade”.

“A Abin respondeu [a solicitação do Congresso] com um compilado de mensagens de aplicativo, em que tinha dia e tempo, na coluna do meio o acontecido e na última coluna a difusão. Esse documento tinha lá ‘ministro do GSI’”, disse o ex-ministro à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

“Eu não participei de nenhum grupo de WhatsApp, eu não sou o difusor daquele compilado de mensagens. Então aquele documento não condizia com a realidade. Esse era um documento. Ele foi acertado e enviado”, completou.

Para GDias, a modificação do documento não configura adulteração ou fraude. “Eu sempre falei no GSI […] que todo documento que passasse por lá tinha que ser a expressão da verdade”, disse. O mesmo documento, sem menção a GDias, foi enviado ao MPF (Ministério Público Federal) e ao MPM (Ministério Público Militar).

A Folha revelou que, em abril, que um relatório da Abin mostrava que o ex-ministro Gonçalves Dias teria recebido uma série de informes de inteligência, por WhatsApp, às vésperas dos ataques às sedes dos Poderes.

O relatório mostra uma série de alertas enviados, de 2 a 8 de janeiro, em grupos ou diretamente para o telefone de autoridades responsáveis pela inteligência de órgãos federais e do Distrito Federal.

No caso de GDias, a Abin mostra que ele recebeu as mensagens em seu celular a partir da noite de 6 de janeiro.

A CCAI (Comissão de Atividades de Controle de Inteligência) do Congresso pediu acesso ao relatório da Abin com o compilado dos alertas enviados sobre os ataques de 8 de janeiro. O primeiro documento, enviado à comissão em 20 de janeiro, não apresentava o GDias como um dos destinatários das mensagens.

A Folha apurou que o general mandou omitir esses informes de uma minuta submetida previamente a ele, sob o argumento de que essa troca de informações não ocorreu por canais oficiais.

À CPI Gonçalves Dias afirmou que “os alertas [da Abin] não chegavam a mim pelos canais oficiais estabelecidos”. “Naquela primeira semana, eu seguia usando meu aparelho celular pessoal e meu aplicativo pessoal de WhatsApp”, disse.

O ex-ministro não deixou claro, no entanto, se recebeu os alertas da Abin diretamente em seu celular.

Segundo o relatório da Abin, a primeira mensagem a GDias, enviada às 19h40 do dia 6, já dizia que havia o “risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades”, a intenção de invadir o Congresso e o deslocamento de pessoas potencialmente armadas.

“A perspectiva de adesão às manifestações contra o resultado da eleição convocadas para Brasília para os dias 7, 8 e 9 jan. 2023 permanece baixa. Contudo, há risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades”, dizia a mensagem, enviada a GDias —como o ex-ministro é conhecido— e também ao Ministério da Justiça.

“Destaca-se a convocação por parte de organizadores de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional. Outros edifícios da Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo das ações violentas.”

Na manhã de 7 de janeiro, novo informe foi enviado ao ex-ministro e à pasta de Dino. O texto, repassado às 10h30, alertava para a chegada de 18 ônibus de outros estados para o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército para “participar das manifestações”.

“Mantêm-se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos, principalmente na Esplanada dos Ministérios”, dizia trecho da mensagem.

Um informe ainda destacava que “caminhões tanque que transportam combustível não acessam a distribuidora de combustíveis anexa à refinaria (REVAP) de São José dos Campos-SP”. “Há presença de manifestantes autointitulados ‘patriotas’ no local”, completava.

Na manhã dos ataques, de acordo com o documento da Abin, GDias recebeu o primeiro aviso às 8h53 diretamente em seu celular. O texto dizia que cerca de cem ônibus haviam chegado a Brasília para “os atos previstos na Esplanada”. A mensagem foi enviada somente para o ex-ministro e não aos demais órgãos.

Gonçalves Dias pediu demissão do governo Lula (PT) em 19 de abril após a divulgação de imagens que colocavam em dúvida a atuação do GSI durante os ataques golpistas.

As imagens mostravam a falta de comando e o baixo efetivo de militares na defesa do Palácio do Planalto. Diante da crise, o Planalto mudou de estratégia e passou a defender, no Congresso, a instalação de uma CPI mista para investigar a invasão aos prédios públicos.

Por Cézar Feitoza

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