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FolhaPress

Marina Silva diz que emergência socioambiental a fez recusar vice de Haddad

Ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora vai concorrer como deputada federal

Foto: Divulgação/Iury de Carvalho

O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) anunciou nesta terça-feira (2) que Marina Silva (Rede) não aceitou o convite para ser vice em sua chapa na disputa pelo Governo de São Paulo.

A ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora diz ao Painel que o motivo para decidir manter-se no projeto de candidatura para deputada federal foi o entendimento de que a agenda socioambiental atravessa estado de emergência no Brasil e que será essencial a formação de uma bancada forte no Congresso para combater a evolução de pautas prejudiciais ao Meio Ambiente capitaneadas pela bancada ruralista e pelo centrão.

“A minha decisão tem a ver com o que avalio ser a emergência da agenda socioambiental e a força que o Congresso tem, a bancada ruralista e o centrão contrários a essa agenda, com bilhões para eleger bancadas cada vez mais fortes”, afirma Marina.

“O centrão tem R$ 50 bilhões para despejar nessas eleições, quando se soma tudo que já foi com os R$ 16 bi que estão aí. Diante da avaliação de que há uma emergência socioambiental e que o Congresso vai ser fundamental, pela força que ele adquiriu, o governo vai precisar de uma base cada vez mais ampla e comprometida com uma agenda do desenvolvimento sustentavel, da transição energetica, dos direitos humanos.”

Ela diz que, em São Paulo, a federação Rede/PSOL tem a possibilidade de eleger de quatro a cinco deputados, todos comprometidos com essa agenda. Além dela, os partidos esperam que Guilherme Boulos (PSOL) receba votação expressiva.

“Somar esses esforços será bom para um governo que vai enfrentar uma coisa terrível no Congresso, contrária a todas as agendas dos direitos sociais, humanos, do desenvolvimento sustentável, dos direitos indígenas”, complementa.

Em referência à “Agenda Perdida”, documento elaborado por economistas liberais que foi absorvido pelo então ministro Antonio Palocci (Fazenda) no primeiro governo de Lula (PT), Marina afirma que há uma “agenda socioambiental perdida” que precisa ser recuperada em uma nova fase do país.

“O que aconteceu em 2003, com política ambiental transversal, fortalecimento do sistema nacional do meio ambiente, controle da participação social e apoio a atividades produtivas sustentáveis, é fundamental que seja recuperado”, diz ela.

“Na parte do fortalecimento do sistema nacional do meio ambiente, é necessário recuperar as atribuições do Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente], recompor conselhos, trazer a Agência Nacional de Águas e o serviço florestal brasileiro para o Ministério do Meio Ambiente, pois hoje estão na Agricultura, e evitar o projeto que acaba com o licenciamento ambiental e o projeto da grilagem”, completa.

A ex-ministra ressalta que apoiará Haddad e continuará contribuindo com propostas para seu plano de governo. Sobre a possibilidade de apoiar a chapa de Lula (PT) na disputa presidencial, ela diz estar aberta ao diálogo.

“Em cima do que considero ser resgate da agenda socioambiental perdida, estou aberta ao diálogo. Me disponho ao diálogo. É o que estou colocando desde sempre. Na democracia, a gente dialoga. Há uma gravidade no contexto de tudo que está acontecendo, mas obviamente que eu trabalho no terreno das posições políticas”, afirma.

“Diálogo político a gente faz em cima de ideias, propostas, mesmo quando possam acontecer divergências. De minha parte, a abertura para dialogar em torno de uma agenda está o tempo todo posta. Até porque tenho visto que o diálogo tem acontecido em várias frentes”, acrescenta.

Uma das divergências citadas pela ex-ministra é a aproximação da chapa com a bancada ruralista. No Mato Grosso, Neri Geller (PP) será apoiado pelo PT em sua busca por vaga no Senado e Carlos Fávaro (PSD) será coordenador da campanha de Lula no estado.

Na ocasião da oficialização da aliança, em julho, Marina disse ao Painel que se tratava de uma amarração com o atraso.

“Espero que eles [ruralistas] estejam vindo porque estão mudando as posições históricas que sempre assumiram. O projeto que acaba com licenciamento [Geller é autor do texto substitutivo] e o projeto da regularização fundiária [relatado por Fávaro] vão na contramão dos compromissos com os povos indígenas, com o setor moderno do agronegócio. Também acredito e torço para que a acolhida [por parte da chapa de Lula] não seja para as teses retrógradas que historicamente eles defendem”, conclui a ex-senadora.

Por Guilherme Seto 

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